5.19.2010

Casa Vazia





À casa vazia

eu nunca mais voltei

levo a cidade no bolso furado
e a casa vazia também

na velha tarde, no trem da primavera
o teu canto era o meu quintal

5.12.2010

Há doze anos

Nas tais caminhadas terapêuticas, encontro lojas cujas vitrines apenas evidenciam o mal gosto da decoração contemporânea, são sofás de couro amargurado que velam o demorado sono de almofadas de estampas de oncinha.
Os carros não dão trela, buzinam para reanimar as ruas e chamar nossa atenção, um absurdo. Como farão aqueles que anseiam por um atropelamento silencioso?
Estão perdidos em meio a tantas malhas sonoras.

Chegamos no outono gelado que é mais bonito que o inverno. Todos parecem colchas de retalho com seus cachecóis e casacos de lã. Meus ossos me dão pena de tanto frio.

O fim da tarde tem sol e vento cortante.

As mãos quase mortas e azuis procuram nos bolsos da calça jeans a calefação devidamente arrumada.

É saboroso o filete de sangue duro nos lábios rachados.

Tem gosto de batom beijado.

As mulheres do supermercado, as caixas mais especificamente, as caixas do supermercado, que são mulheres e não caixas de papelão, pisam num pequeno dispositivo que faz a esteira onde se põe as compras andar. São tão novinhas que sequer pensam que há uns doze anos não existia tal dispositivo e elas eram obrigadas a pegar produto por produto, visualizar o seu preço e registrar na máquina de cobrar dinheiros.

Há doze anos também não só era permitido fumar em locais fechados, como era permitido fumar em locais fechados e claustrofóbicos, tais como aviões e banheiros femininos.

Há doze anos eu tinha o que? Uns onze anos?

E eu não tinha o passado de doze anos para poder reclamar do presente. Infância é boa então por isso, não é? Porque a gente não é velho.