5.28.2012

Ela bem poderia me fitar
com aqueles olhos de rasgar o coração na boca
mastiga, vence, esmaga
amarra em mim a tua graça
as cantorias de aguardente e meiofio
saudações mortas de tanto cio.

Troca de vestido
põe na pele aquele floral
resgata em mim a primavera.

5.12.2012

esse poema é
de carne

osso

e isopor.

5.08.2012

Falar contigo é como pescar no vazio.
Lanço um anzol cheio de força pela janela do meu prédio. Dias e dias a fio.
Tanto talento que ninguém diria que ali no oitavo andar mora uma menina e não um pescador...

O que eu posso ver de dentro é o horizonte. A praça Batista Campos toda cheia de árvores, verdes em pêlo.

O que os outros vêm de fora é um pedaço de fio amarrado numa antena de televisão.
Todos dos dias a frustração, o mar da cidade não está pra peixe. Foram todos extintos...

Até que numa tarde de sábado consigo pescar uma banda de maçã!
Tia Zafira só tem amigas pedras preciosas, Pérola, Rubi, Ana Diamante.
Quando viajam para a praia usam suas longas tangas coloridas e seus maiôs de verão, e gordas passeiam pela areia fincando o peso do próprio corpo nas pegadas. E que personalidade tem estas pegadas!
Tia Zafira bebe cerveja e tem a voz rouca porque fuma cigarro escondido mas disso eu não sei.

Tia Zafira também chora na parte da noite, mas é bem na hora que estou dormindo e não escuto. 

Tia Zafira, muito diferente de sua irmã, Margot, só anda com pedras preciosas.
Margot anda com mulheres feias mais feias que ela só para se sobressair.

5.07.2012

entras pelas frestas e
exiges alguma luz
passeias pelas fissuras
e não compreendes
de onde vêm as cicatrizes
percebes a infiltração na parede
mas não te atreves a enxugar minhas lágrimas

acusas minhas raízes mortas
mas então eu te pergunto: onde está a água?

5.02.2012

Salamandras

Como a tua cabeça te trai assim?
Juravas que já tinhas esquecido  a doida
e de repente quando ela volta

começas a sonhar novamente com os velhos código do amor:

pássaros
sofás

fios de cabelo pegando fogo

bocas banguelas

salamandras

5.01.2012

Eu só vi que teu coração era um formigueiro na hora que pisei nele sem querer.
Como a Sandra que vive só, almoça só, e vai só ao cinema.
Pelo menos é isso que o dia anuncia... e não importa o comovente passado cheio de pares e amores. Quando a solidão chega e se abanca não há o que a faça ir embora. Nem mesmo um namorico.

Solidão tem a beleza do fogo que é pleno mas incendeia... incendeia. 


Depois de longa e triste espera, surge o sol para consolar nossos olhos carentes de luz... as nuvens de chuva resolveram se afastar de nossa existência e as sombrinhas coloridas todas foram dormir no quartinho de coisas que não se usa mais. Lá deixei meus olhos quando estava chovendo... agora arrombei a porta à quatro murros para poder devolvê-los às órbitas.

Não, não meu bem, o segredo está nos pulmões, não no coração.


Sandra tem pulmões largos e portanto não se afoga.