De cárcere em cárcere eu sou a luz mais cansada, ativa e viúva daquele presente. Visito todos os quartos. Já iluminei a liberdade incondicional cavalgando à ilusão de minha luz cansada, ativa e viúva nos cárceres que - empoeirados de tanto material de construção inavaliável (como cal, sal, ervas e o mau) das salas alheias às lamparinas fedentinas do umbigo dos outros - estavam abertos por corredores projetados ao horizonte de uma nuvem múltipla carregada das objetividades mais cotidianas.
Agora cheguei. Minha própria bandida mijando no penico de alumínio da terceira cela no sétimo pavilhão, ala das bastardas. Nota dez para o destino. Nota mil para a grandeza parca da resignação. Notas tristes para a humanidade...recorrente amanhecer. É fácil aceitar. Você tenta fugir passando por entre as grades, mas não é estreito seu esqueleto nem em você mesmo. Constituição concreta, não é nada abstrato. É simples, eu não posso mais fugir.
Quando era um brinquedo fabricado pela juventude guardava os raios de sol comigo porque algo me diz que precisarei deles um dia. Está tudo dentro de um saco plástico rodopiante que bufa o calor das 9 e meia na hora que bem entende...minha antiga hora favorita em que cantavam aquela canção do garimpo que dizia mais ou menos assim:
(não tenho lembranças)
Era a canção das 9 e meia que atraía o sol que me despia. É o balão de seringueira apitando pelo céu visceral do mais misterioso rei absolutista chamado escuro. O olho uno me arrebentando à lampejos e relampejos em tormenta mofada.
É a vida interrompida. Sou eu calada, gostando. Meus filhos são as sementes da bandida mais cansada, ativa e viúva; construída pela terra úmida que me jogaram à cova e arrependida por mais de 7 anos - os únicos - por não comungar o pão divino como me ensinou alguém que hoje é um espectro irreal do feminino. Eu não sabia, mas já temia adeus. Sou a sombra que não precisa do progresso do movimento nem do arrependimento. Estaticamente engoli um calabouço antes de ser concebida.
Segurança máxima; tua pena, mundo, é mínima.
1.29.2012
1.28.2012
humanismo
Eu trafegava por entre as estrelas
e enxergava de longe o mundo virar céu
sem saber que de perto
o mundo era cemitério
foi quando compreendi que não há
amor para o amor
e enxergava de longe o mundo virar céu
sem saber que de perto
o mundo era cemitério
foi quando compreendi que não há
amor para o amor
ORAÇÃO PARA OS MENINOS HOMENS
Ponto que clareia o céu
'lumina a fuga de um menino
que serpenteia
de déu em déu
até alcançar algum destino
boa noite,
corre menino
ah se eu pudesse te livraria do açoite
do mundo sem voz
ponto que clareia o céu
'lumina a fuga de um menino
corpo onde passeia o sol
te tornas homem e tão sozinho
teus companheiros
outros pés solitários
todos filhos de sal e suor
'lumina a fuga de um menino
que serpenteia
de déu em déu
até alcançar algum destino
boa noite,
corre menino
ah se eu pudesse te livraria do açoite
do mundo sem voz
ponto que clareia o céu
'lumina a fuga de um menino
corpo onde passeia o sol
te tornas homem e tão sozinho
teus companheiros
outros pés solitários
todos filhos de sal e suor
1.20.2012
timidez
neste canto mais escuro
eu fico mais segura pra te observar
eu quero ser bem mais que tua menina
eu quero ser o teu janeiro
até dezembro em pensamento
o teu trabalho, o teu sustento
carnaval e calendário
todo dia
casamento
e o teu aniversário
eu fico mais segura pra te observar
eu quero ser bem mais que tua menina
eu quero ser o teu janeiro
até dezembro em pensamento
o teu trabalho, o teu sustento
carnaval e calendário
todo dia
casamento
e o teu aniversário
1.18.2012
Pour Elis
Qualquer dia eu saio e
Corto o cabelinho em formato de
trem azul
com o sol na cabeça
tenho um troço e um treco e uma falta de rumo
quando ela canta "poisé, fica o dito e redito por não dito..."
só por causa dela
eu fiquei velha por dentro
vivida, corrida, sofrida
relicários intactos entre o estômago e o coração
e por fora também me transformo, mas em passos
um pouco menos poderosos
num andamento de calendário
sete poesias mais lento.
Corto o cabelinho em formato de
trem azul
com o sol na cabeça
tenho um troço e um treco e uma falta de rumo
quando ela canta "poisé, fica o dito e redito por não dito..."
só por causa dela
eu fiquei velha por dentro
vivida, corrida, sofrida
relicários intactos entre o estômago e o coração
e por fora também me transformo, mas em passos
um pouco menos poderosos
num andamento de calendário
sete poesias mais lento.
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