8.24.2011

Sobre o homem branco

 "O mundo deles é quadrado, eles moram em casas que parecem caixas, trabalham dentro de outras caixas, e para irem de uma caixa à outra, entram em caixas que andam. Eles vêem tudo separado, porque são o Povo das Caixas...." ( pajé do povo Kaingang - sul/ sudeste do território brasileiro)

Meio mundo tentando se encaixar
e meia dúzia desencaixando
(a outra quase metade não está nem aí pra nada não)

se eu pudesse desenterrava os meus e incinerava
pra jogar no rio e virar peixe,
sapo,
alga,
lodo
e tudo mais que é livre.

8.17.2011

A casa cheia de pragas, pragas nas plantas, nos móveis, nos livros, é uma casa viva. Porque as pragas não iam desejar alimentar-se de morte.
Não tranco a porta mais que duas vezes para não agourar nem apodrecer o lar.
Deixo sobre a mesinha ao centro da sala um retrato de família um tanto antigo que mostra minha vida desde os meus últimos aniversários até a noite de ontem.
Saio na rua e tento fazer revoluções.
Caminho solitária até encontrar-me em alguma matilha.
Assalto um banco em minha cabeça.

Cato tintim por tintim os caquinhos e
os destroços
do que sobrou do dia


ponho esse extrato numa prateleira
de troféus
na etiquetinha grafo: bom dia ruína.

8.16.2011

Sonhos de papel

Sonhos de papel? Foi isso mesmo?
Papel urubu? Bicando letra por letra
como se letra por letra fosse o rabo podre
do peixe podre
cuja cabeça
os cães comem
bem como os homens
bem como o rio.

8.08.2011

Queda de Bicicleta

o braço esquerdo em carne viva...

(mas isso é redundante porque eu sou feita de carne viva).

8.05.2011

Abre a Janela

Olhe só para você
Como o mundo terminou
O dia amanhecendo sóbrio sobre a madrugada ele esqueceu
você

Como vim parar aqui?
Você me deixa ficar?
A casa é quase sempre minha e essa noite escura vai poder entrar
você

Canto mais que ando
Corro mais que sonho
Vivo mais que solidão - Abre a janela!

Ando mais que canto
Peito mais que um ponto
vivo mais que solidão - Abre a janela

Ela é azul clarinho e fofinho o branco, então
aglutina os seus dedos
puxe o ferrolho

e


a
mão (04-ago-11)

para quem quiser transformar e musicar
Calçados cansados pelos redemoinhos
existem coisas inafiançáveis
como a amizade, por exemplo.

Percorro meu espírito
e encontro devaneios tolos
espelhos questionáveis
sacralizações burras

sacudo todo o resto
e sorteio
minhas próximas alegrias.

8.02.2011

Porque se eu me chamasse Haroldo tudo seria mais bolinha.

Coração no telhado!
prestes a saltar...
se eu fosse artéria de cá eu gritava:
_ VOA, CORAÇÃO, VOA!

Mal sabia eu e ele que voar não faz parte da natureza de um coração e sim despedaçar.

(é que em puberdade aquele coração gastava as tardes nas sessões da tarde
vendo aquele filme do garoto que sabia voar,
ahh nesse tempo
eu também sabia...)

O Possível Existe








desgele-me


anseio pelo calor breve
que bree meu corpo
que me sue os poros

seio de coração leve
me aqueça um pouco
à traga de volta

saudades dáquilo que antecede
que nunca acontece
do nada que tece

lonjura ingrata
que mata e
me congela

8.01.2011

Confissão do dia frio

Casquinha de ferida arrancada no dente
de tanta autopunição
correndo pelas entranhas

e/ou vício infantil.

cabelo desgrenhado, dente não escovado,
pijama do avesso
corpo em posição fetal
encolhidinho de medo do bicho papão

é cinco anos? - não, é solidão.