7.30.2011

poema para Olinda número 4 mil e...

Você tem que seguir o ditado, de cabo a rabo, se quiser me esquecer:

você precisa ver o sol morrer de cima do céu.

você precisa cancelar seus aniversários.

você tem que virar a próxima esquina para combinarmos constrangidos
nosso próximo acaso.

você deve cantarolar enquanto toma banho - que é tão bonito.


você precisa aparecer numa festa um sábado qualquer - e dizer que me quer.
pra eu falar que não é assim e coisa e tal.

afinal,

você precisa ganhar algum peso

você me pedindo desculpas ganha alguns pontos.

também ganha se usar aquelas saias curtas.

você de nariz vermelho e soluço no copo
faz meu coração tropeçar na flecha

você precisa me ligar quando eu não estiver, em outubro
para deixar um recado que anime o meu orgulho

você precisa quebrar alguns espelhos invejosos

e matar delicadamente os mosquitos nas tuas pernas

precisa abotoar direito tua camisa

e teus pensamentos.

7.27.2011

ressaca amoral

Hoje eu acordei assim toda miudinha de cachaça e cervejinha
e marlborinho em vários boxes

aquela tremederinha que é nada mais que o corpo dizendo:
olha, te segura que eu não dou conta sozinho.
mas a cabeça fala: dá sim, corpo!

brincando com a consciência

até a hora em que a pedra vai no olho

menino, olha, se bate um vento... (naquele sotaque bem do seu paraense)

- se bate um vento, é brisa pra sempre na certa.

7.26.2011

transando o céu

Soprando todo o sangue da voz
assim são os passarinhos das seis, sucessivamente, som após som
aliteração suicida
cavando ouvidos
com pás e britadeiras
marcas eternas sobre o asfalto
rotas para o centro da terra
coração de quem escuta
uma reza ou uma canção
um assovio
uma matilha de passarinhos trazendo as seis da tarde
em seu rebuliço

asas de vidro quebradas
refeitas com fita
e cola polar


céu azul belém
rasga-mortalhas do dia
morre mais um dia

eu fazia natação no colégio nazaré
a piscina era então o grande mar da sereia das águas cloradas
e o maiô era o maior do meu corpo

naquele tempo o tempo não passava
e eu tinha seis anos pra vida toda

(até o dia em que fiz 24 anos.)

Egos Ismos

Bom dia dia mais ensolarado do ano
vc entra em mim pelas brechas
e ilumina meus escombros todos.

luzes apagadas, já não preciso pagar conta alguma.

meu umbigo doravante é filho do sol

e eu não chamo mais o egoísmo de egoísmo, chamo de
coisa em mim que me salva de ti.

7.25.2011

A quem interessar possa

"Qual é o país dos tecidos gigantes?"
Se perguntaram as costureiras das rendas de Urano
Urrando de dúvida, cheias das encomendas atrasadas
de bordados de ozônio, lírio e gelo líquido

e filhos famintos de chapéus virados
pelo vento da fome
Vazio não contido e incompreendido: como por anos foram os tecidos gigantes e seu secreto país
Revelado pela religião e creditado pelo povo logo antes de ser imaginado
Num pressentimento conjunto e no calor
do assunto de que todos no mundo pareciam mais gordos

U8

PankStraße
SchönstedtStraße (Esquerda) até UferStraße nº23

Eu ultimamente tenho acordado tarde
calçado botas pretas das cores dos meus
sonhos
Eu ultimamente tenho sido o último
primeiramente o último nas tentativas
aqui dentro não há, as tentativas
tudo se esbarra em fatos estranhos
que pegos de um estalo
são as flores arrancadas do telhado

Eu ultimamente desaprender o verbo
castrado o vício; criado outros, chorado
sempre. Pedindo com os olhos de gigante
por mais um amante

Eu ultimamente tenho sido o último
primeiramente pensado em mim
pesado de compreensão.

Acho que sou Jesus Cristo, ou um
anjo salvador. Piedade de mim, ultimamente

Ultimamente tenho uivado com as
mãos, dedos e braços
fazendo música para aparecer no rádio
ao menos o rádio me diz que horas são

Primeiramente tenho sido o quarto
também corredor, abraço o que tenho
vontade. Eu sou uma verdade, ultimamente

Quando sorrio quero um interruptor
pra me dizer que não, ultimamente tem
sido necessário.

Nesse caso, primeiramente arranco
uma flor do telhado pra dar adeus
às minhas costas e dizer como vai pra minha barriga

Sonho que não me lembro de nada
que sou uma máquina surda, que ultimamente
não sabe em que verbo e em que país sentir.

- Sabe sim, ultimamente, hoje por exemplo
você viu um gato. Você sabe, rapaz, que loucuras sobem as paredes, escorrem das gave-
tas. São os espíritos e silhuetas que te seguem.

Você é um espírito meieiro, assuma. Desista.

Quanto vale o que te põe ao redor de cercas?
Volte lá e cumprimente sua sorte: ela tem
patas afiadas e seios de elefante, garga-
lha e sapateia, meio luminosa, meio solitária.

Apertou sua mão? A direita na errada?
A esquerda na dúvida?
Não perca tempo. Um abraço basta.

Agora sua sorte é carpideira pela morte de
sua origem: você não possui passado, amigos, estirpe
você é sua alcatéia, e olho só que maravilha
planando se vê de cima - planejando se vê:
o rosto miúdo da vida saindo de uma sala escura
virando a esquina da rua, pegando avião, trepando
na contramão, te olhando mais alto que poste,
como um perigo de morte que sempre há de
te cutucar.

E veja só que vida...no seio duro há caída
Tudo que vem-vai. E mesmo esta sala escu-
ra com toda a sua candura um dia irá desabar.

Te deixo um único pretexto para continuar
Deixe as salas sempre abertas para as penas
os travesseiros entrar. Esqueça as penas:
Lembre que o que te amorteceu foi o
vento frio que pulou as escadas todos
os dias de solidão dividida de uma casa sofrida
cheia de caranguejos, moleques e lamaçais.

Agora você tem sua sorte de volta
Respeite o seu desrespeito.
Negligencie sua reza só por um dia
Esteja com Deus, jante com ele, despeje no prato
a sopa do mundo: sem peixes nem pensamentos
profundos. Conte pra ele quem riu de você.

Ele entende. Vocês vão chorar juntos como nos
dias em que as pessoas nascem e morrem.
Sinta seu coração pegando fogo de cólera
- Olha lá, Deus chamando um palavrão.

Respeite seu desrespeito.

Um dia eu volto pra minha cidade de cabeça baixa
Não vai ser de tristeza, é que lá as pessoas tem
medo do sol. Ele arranha retinas de tão florido.
Vou contar pra todo mundo o que me acon-
teceu de outro jeito que não é a verdade.
É que tem tempo que eu rego a planta
dos fatos; aí eles crescem. Eu prometo que
não lembro mais quem me disse nem quem
foi: é tudo tão perfeito que é melhor não
contar, ninguém acredita em si nem no mundo.

Comprei duas mil cores novas para os meus
sonhos, mas até agora só apareceram as mesmas das
cores das botas pretas.

Terei bombas para explodir quando minha
cabeça baixar novamente, mas sempre protegida estará
sob os olhos floridos do sol: encontrarei uma capa
para cobrir nós dois. Então fingirei que não estou,
vou deixar você me levar com você

Não se preocupe. Fique onde você está.
Fale sozinho que eu sou uma máquina de não
escutar. Faça um plano, querido. Construa
sua linha com palitos de fósforo: por lá te
seguirei acendendo seus passos do passado.
Por favor, não se esqueça!
Você pode negar tudo menos suas linhas quei-
madas. Sentes o cheiro? O que eu falei você
já fez, em Dezembro, Setembro Agosto Junho
Domingo e Novembro. Bem atrás de você.
Eu estou atrás de você, como uma canção
romântica, uma triste novela quem têm um pouco
da tristeza de todas as outras.

Assobio pela fresta do seu interiorano bairro
Onde está sua avó, senão no que você mais tinha
medo? Exorcise, diga credo. Credo de admiração.
Credo do que é creditado em matérias esquecidas
mas disso só o nada se lembra, por que ninguém aprende.
Nem você aprende, seu...Anjo Demoníaco.
Eu e você.

7.23.2011

Caribelém

Sólo una cucharadita! _ dijo el café polvo para mí mientras lo adocicava demasiado, una vez más, como todos los días.
La copa me miraba reprendendo con la cabeza.
Muy tarde.
En estos días calurosos me siento tan caribeña.
 

Design

A gente se encontra tão pouco que até no web sítio a gente parece velho. Se eu tivesse seguido os conselhos de mamãe eu teria seguido em frente com o curso de design e daria uma nova cara pra isto aqui (mentira, se eu tivesse seguido os conselhos de mamãe eu seria ela), então resta contar com nosso amigo a(u)lto o suficiente pra pintar essas paredes descascadas, desbocadas do pretexto perfeito e esquecido.

Vocês que são meus pares não podiam estar/ser mais à parte de mim.

A gente cresceu e ficou diferente um do outro. Óbvio, né?! Mais longe que isso só a nossa infância.

Um Beijo.

7.22.2011

nesta casa hoje é tanta tristeza que o tempo virou seis horas da tarde para sempre.

7.15.2011

Aquele abraço que tu me destes, ainda trago comigo
que eu carreguei ele nos meus braços desde aquela hora que saí da tua casa até agora
e quando pesa eu o apoio sobre meus ombros
ou sobre minha cabeça, sentado no furacão.

e às vezes, mas (juro) só às vezes, eu o arrasto pelos cabelos insônia adentro.

lambuza

Eu tenho uma faca no peito e ando com ela por aí
minhas camisas todas sujas de sangue escorrendo

meu ar cansado de quem não suporta mais a dor, mas suporta: não suportando não doeria.

No ônibus, olhando assim tudo pela janela, carro passando, gente, mundo, pensamento
verde, amarelo e do tipo vermelho
arde mais a faca no peito, e entra mais, e dá voltas circulares
só para brincar de tortura
o chão do ônibus fica todo lambuzado do que eu era por dentro
sinto vergonha
ainda bem que ninguém vê.

Poeminha de Saudade à 2 mãos

Por onde andas?

Correndo.

3.2.1para a decolagem. (NÃO ESBARRARÁS NO CÉU).

AS CONSEQÜÊNCIAS DO ESPAÇO

Na mais alta abstração de bar, o mundo vai surgindo em forma de gente com copos de cerveja na mão... e todos estamos juntos: todos bebemos.
Brindamos aqui e acolá.
Um rapaz se aproxima com seus olhos meninos que denunciam qualquer arte tornada trabalho. Músico. Simpático. Belo – daquelas feiuras distorcidas pela brisa marítmaalcoólica da madrugada.
Conversamos num quase-troca-telefone, sorrisos de quase-vou-agarrar-mas-não-vou-porque-hoje-é-quarta-feira. Despedidas esquecidas, mais uma noite mal dormida. Adélia Prado na cabeceira. Clarice veio morar na nossa casa. Hilda Hilst dorme obscena sob meus lençóis.

No caminho de volta para casa eu e minha companheira de aventuras esboçamos passos trôpegos e risadas. Queda nas escadas. A promessa de empedrar o coração. Mas o coração é de areia, empedrou e dissolveu inocentemente espalhando-se pela praia.

Ele falou uma coisa que eu adoro ouvir.
O que?
Que eu sou interplanetária.
E o que isso quer dizer?

(que eu vivo na solidão de minha cápsula lunar com uma máscara de oxigênio torcendo para chegar numa próxima estação galática enquanto minha mãe tenta me enviar mensagens holográficas de duas em duas semanas quando me é permitido algum contato com a terra – e a terra nem é redonda.)