Mulher pra mais de mês
mas vou me lamentar apenas
uma vez
(onde foi que eu errei?
onde foi que eu errei?)
A paixão só dura sete dias
E assim sucessivamente,
Até que a ordem se inverta
e eu me perca
novamente
8.23.2012
8.15.2012
Breviário da Fuga
Tinha um sonho: aprender a escrever para redigir uma carta de
despedida para poder se mandar dali daquela salinha feliz e colorida da
pré-escola.
Não aguentou completar cinco anos e em um belo dia de verão
pediu para a professora escrever em nome dela:
Querida tia Socorro, eu
não suporto mais este lugar e vou partir.
Depois olhou com ternura para a professora e timidamente
convidou-a para fugir junto. A professora não aceitou o convite alegando ter de
cuidar das outras trinta e três crianças da turma.
(Que dor. Que dor. Que aperto meu Deuzinho do céu. Por dentro
um coração torturado... Ou na pior das hipóteses: é uma dor que não dói e por
isso não tem remédio. O segredo é esperar, mas a espera também é tóxica, é um
estado de infecção. Tantas outras sensações terríveis dentro da menina que
poderiam torná-la um versículo da bíblia).
ABANDONEMOS A PROFESSORA, PORTANTO!
Então a menina saiu sorrateira da sala de aula, atravessou os
corredores vazios do horário morto da escola e alcançou o parquinho onde ficou
a brincar solitária nos balanços e escorregadores.
A mais doce fuga de todas. Rota fantástica.
Ralou os joelhos em um movimento mais afoito e nem chorou
porque não tinha para quem chorar. Viu um fiapo de sangue escorrer até o chão e
fantasiou não estar assustada. Considerou permanecer ali até completar sete
anos.
Mas toda aventura tem seu preço e depois de algumas horas a
menina já estava de volta à desinteressantíssima vida cotidiana das meninas.
Mamãe não gostou da arte. Ficou puta. Preparou engenhoso
castigo:
Mamãe passou mel na menina e depois o papai foi lá e comeu.
8.14.2012
Coragem você.
Não é porque sua vida está uma merda que você vai sair por aí cumprimentando todo mundo com pés na porta.
Segura essa onda, irmã.
Guarda essa língua ferina...
Essa navalha na boca
Ainda vai fazer sangrar
a boca de alguém.
Que cor amarela que nada...
Sou na flor
o doce ardido do espinho
Não é porque sua vida está uma merda que você vai sair por aí cumprimentando todo mundo com pés na porta.
Segura essa onda, irmã.
Guarda essa língua ferina...
Essa navalha na boca
Ainda vai fazer sangrar
a boca de alguém.
Que cor amarela que nada...
Sou na flor
o doce ardido do espinho
8.08.2012
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