Tinha um sonho: aprender a escrever para redigir uma carta de
despedida para poder se mandar dali daquela salinha feliz e colorida da
pré-escola.
Não aguentou completar cinco anos e em um belo dia de verão
pediu para a professora escrever em nome dela:
Querida tia Socorro, eu
não suporto mais este lugar e vou partir.
Depois olhou com ternura para a professora e timidamente
convidou-a para fugir junto. A professora não aceitou o convite alegando ter de
cuidar das outras trinta e três crianças da turma.
(Que dor. Que dor. Que aperto meu Deuzinho do céu. Por dentro
um coração torturado... Ou na pior das hipóteses: é uma dor que não dói e por
isso não tem remédio. O segredo é esperar, mas a espera também é tóxica, é um
estado de infecção. Tantas outras sensações terríveis dentro da menina que
poderiam torná-la um versículo da bíblia).
ABANDONEMOS A PROFESSORA, PORTANTO!
Então a menina saiu sorrateira da sala de aula, atravessou os
corredores vazios do horário morto da escola e alcançou o parquinho onde ficou
a brincar solitária nos balanços e escorregadores.
A mais doce fuga de todas. Rota fantástica.
Ralou os joelhos em um movimento mais afoito e nem chorou
porque não tinha para quem chorar. Viu um fiapo de sangue escorrer até o chão e
fantasiou não estar assustada. Considerou permanecer ali até completar sete
anos.
Mas toda aventura tem seu preço e depois de algumas horas a
menina já estava de volta à desinteressantíssima vida cotidiana das meninas.
Mamãe não gostou da arte. Ficou puta. Preparou engenhoso
castigo:
Mamãe passou mel na menina e depois o papai foi lá e comeu.
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