5.30.2009

Isto Aqui Não é Uma Crítica Teatral


Raptada pelo Raio - 30 de maio de 2009
direção: Cibele Forjaz
com Lúcia Romano, Edgar Castro, Christian Amêndola Moleiro e Paulo Azevedo.




Respeitando todas as possibilidades de vivência que o espetáculo pode conceder singularmente a cada espectador; digo - entredentes, sem titubear - que só de fatochega ao útero da narrativa, aquele que já lutou contra o povo raio em busca de alguém que partiu.

E voltou de mãos vazias para a casa-pele.

5.26.2009

ODE A LAURA LINNEY


Não vou aqui entrar no mérito da afirmação leviana do Oráculo1 sobre os ares aflitivos e estranhos de Carmen Maura, que para mim é uma das melhores e mais interessantes atrizes de sua geração.
Mas se vamos falar de atrizes, porque não tocar no nome de Carmen Maura? Que, para mim, é de fato uma das melhores atrizes de sua geração. Carmen Maura é uma GRANDE ATRIZ porque é despudorada, brinca em cena, assume a dor e a patetice de suas personagens (que em grande parte são almodovarianas). Carmen Maura é de um cinismo impreciso e delicioso.
Ela, assim como Martina Gedeck, está no topo das grandes artistas do cinema mundial.
E então temos Laura Linney. Quem é Laura Linney?
Foi indicada ou ganhou algum Oscar talvez. Ademais: quem é Laura Linney?
A antagonista do naco de carne Scarlett Johanson em Diário de Uma Babá; a insuportável esposa de Jim Carrey em O Show de Truman; a advogada de O Exorcismo de Emily Rose. Ou seja: cereja. Laura Linney é aquilo que pode se chamar tão somente de BOA ATRIZ.
Sejamos honestos, daqui a alguns anos quem vai se lembrar dela? A mãe dela. E só.
Mas em terra de cego quem tem um olho é rei; o que é uma BOA ATRIZ numa terra onde existem milhares de monstros sagrados? Laura Linney é discreta em sua interpretação, tem medida. O que seria do Jim Carrey em O Show de Truman sem a opressão materializada em sua esposa? Emily Rose nem seria lembrada depois de sua morte se o padre não fosse processado e sua advogada não o tivesse defendido com primor. Pior: não lembraríamos que a jovem foi vítima de uma possessão demoníaca. Laura Linney alcança patamares religiosos com o seu talento - que é um talento milimetricamente dosado, mas é um talento.
Laura Linney existe para fazer os outros brilharem, como o sol que empresta o seu brilho para a lua viver altiva; mas quando namorados querem experienciar o momento mais romântico de suas vidas, eles não escolhem o sol, escolhem a beleza de uma noite de luar. Se Carmen Maura ou Martina Gedeck estão no recinto ninguém olha para Laura Linney, e ela humildemente fica recolhida a sua insignificância, portando-se como uma BOA ATRIZ.
Uma BOA ATRIZ não faz escândalos em busca de reconhecimento midiático.
A Laura Linney pode fumar, cheirar, beber até o cu fazer bico, mas nós nunca saberemos. Laura Linney pode se casar com o Sarney que não fará nenhuma diferença. A sua discrição evoca no público alguma indiferença.
Eu ponho minha mão no fogo por Laura Linney, sei que ela nunca será agente de um bafão.
Aqui deixo minhas palavras em homenagem a esta irrelevante artista de Hollywood que não mora em nossos corações e nem marcou nossa existência e por isso, possui eternamente um pedacinho carinhoso do nosso esquecimento.




1Oráculo é um persaonagem ficctício. Qualquer coincidência é mera semelhança.
"E essa menstruação que não desce? Já tá até estufando minha barriga."


(Luana, aos quatro meses e meio do segundo tempo)

Confissões

Hoje ele tava cheio dos siricuticos e aperreios, então eu falei:
-Vai, me conta o que está acontecendo.
Ele foi buscar café e contou pro café, ficou no café até eu me cansar de não saber; mais tarde (umas duas e quinze da tarde) eu dei uns tapinhas nas costas dele, como quem não quer nada, e soprei: quando você quiser conversar eu estou aqui. Então ele foi trocar uma idéia com o cigarro.
Mais tarde fiz a última tentativa, olhei pra ele com olhinhos de compaixão. Mas bem na hora da olhada ele tropeçou e nem percebeu, foi chorar as amarguras com a boca no chão, eu corri para socorrê-lo já na tentativa de aproveitar a deixa. Depois de litros de sangue jorrado e litros de gelo para estancar feridas, ele desatou:
- É que acho que vou terminar com a Luiza, já não gosto mais da Luiza como antes.
- Não? E como você gosta agora?

Com a boca embotada de hematomas e segredos, ele revelou:

- Agora eu gosto dela como um homem gosta de outro homem.

5.25.2009

subjeito e a chuva

hoje sou abcesso, a espera de unhas que me apertem, jorrando todo pus que me há, conhecidos meus me esvaziam os sentimentos, ausentes nos assentos, me restando só o conhecimento, como a chuva que deslava e me suja, entristece. 
anteontem eu pensara na chuva de outrora olhar, que profundo me deixava e agora a chuva suja me deslava e me esvazia.
quero sentar no assento do subjeito profundo de sensação, e de conhecimento descartado.
faço um ato, um pedido, pra que a chuva toque a pele do subjeito e ganhe sentido. 
e que esse subjeito, no alto de sua torre de efeito, seja espelho limpo, minto, que a chuva lave esse espelho, deixando sujo e feio, só sensação, sem percepção. estético, não estático.

5.23.2009

Esboço de esboço

- Tava gripado, dei um espirro, mas acho que tinha amor no meio, por que ela olhou pra mim de um jeito que não se olha direito; meio lente nova, meio filho, mesmo. Aí eu fui embora; não demorei pra entender que eu não nasci pra amor.

5.20.2009

O dia tá lindo

5.19.2009

Planta carnívora.

Deus em sua magnitude criou a terra e o resto.
Papai não acredita.
E olha que eu pequena já usei de todos os argumentos mais convincentes que ELE pôde me enfiar goela abaixo.
Não me importo mais com a descrença. Meu pai é descrente, e acho que o não temer a Deus deve de estar no sangue (tomara).
Enfim, não teve jeito.

Meu pai é de uma raça rara de gente que se fode. Nascido com o calcanhar de Aquiles duas vezes nos dois pés e as 7 pragas do egito 7 vezes recaem sobre ele a cada 7 meses desde os 7 anos. Já muleque aprendeu a gostar de gafanhotos (papai é do tipo que jamais os arrancava as pernas ou os queimava no sol com a lupa).
De tempos em tempos acontece um sacrifício, corpo e sangue e blá blá, aquela velha história. Um velho testamento que a gente bem conhece, em que eu só hei de herdar o sangue-veneno, pra mais tarde parir meu filho descrente. Igual ao avô, portador de seu armagedon, pra falar a verdade eu não tenho certeza do significado da palavra armagedon, mas seja lá o que for me parece apropriado. Ele é a caixa de pandora dele mesmo. Ainda bem que é fechado (com excessão dos domingos de festa).

Parece que o planeta inteiro foi feito de par, só eu que me chamo Ana.
Em minhas contas o número de seres humanos na face do mundo é ímpar, e está na cara que só pode ser eu a azeitona que fica na caixa de pizza, é pra compensar a parte da maldição que não me coube no sangue.

Daí que numa conversa de bar que não se deu num bar alguém vem me perguntar das plantas carnívoras. Planta carnívora.
É uma planta que mastiga, se isso não é Deus eu não sei de mais nada. E essa não é uma conclusão muito inteligente.
Quando eu for mais feliz, alguns 10 anos mais nova, algumas 10 amarguras a menos, eu explico pro papai, e ai dele se não entender. Aposto que a planta carnívora já sabe de tudo. Porque do mastigar pro pensar é só um pulo.
Papai mastiga e pensa, mas não pula. Faz parte do castigo.
(Eita que às vezes eu queria a força da descrença.)

5.17.2009

Me mudar

Veja bem, meu irmão
que o planeta que vem
é vermelho e azul
e nem vida ele tem

Por isso não se assuste se você se apaixonar
e, talvez porum motivo
você queira lá morar

Eu entendo
Eu entendo

5.13.2009

ASSEMBLÉIA

Por favor, quem lê isto aqui, manifeste-se até o dia 13 neste post.

Obrigada,

Comissão Avaliadora de Processos de Permanência.


ZOEEEIRA

5.10.2009

Queria dividir a dor de um livro com vocês; paro agora de ser uma esponja que absorve toda a dor das páginas para me tornar uma lâmina que só reflete tudo o que se sente.
Não tenho como explicar o trecho que me fez isso, seria inútil também transcrevê-lo e também não vou indicar o livro, por que meu pai já me disse que nessa idade as conseqüências podem ser irreversíveis. Infância, dor e conseqüencia. Eu sei que essas três chaves são tudo o que sou hoje, e sei também que é pelo menos um pouco de vocês, meus amigos.
um brinde ao sex de todas as pessoas desse blog!

5.07.2009

Assembléia

Por favor, quem lê isto aqui, manifeste-se até o dia 13 neste post.

Obrigada,

Comissão Avaliadora de Processos de Permanência.

Suprimento da Maldade

Daniela não tem verrugas, não tem pernas manchadas, braços marcados, barriguinha, pele oleosa, olheiras profundas e ressaca.

Ontem eu tive um pensamento genial mas não lembro dele.

Esta mulher Isabela de voz feia era muito atraente, havia algo de especial entre o seu corpo todo o resto. Esta mulher era um pouco mais bonita que sua mãe; e sabia ela, nos quase longos vinte e tantos anos que sua filha seria um pouco mais bonita que ela mesma, a mãe. Não sabia, porém, naquele instante, que estava grávida.
Na infância, perguntava a irmã mais velha se havia dor no sangrar de todos os meses, a irmã respondia às vezes dói às vezes é bom. Às vezes rasgava, às vezes ardia, às vezes angustiava, às vezes era alívio.

Ela bem sabia que toda a conversa que começava com o assunto sexo, terminava também em sexo, e uma vez, com o tal rapaz do bar envolveu-se na inércia da temática, e acabaram os dois por fazer sexo.

Eu tenho tanto ciúme mas tanto ciúme mas tanto ciúme que sou capaz de só viver de outro.
E ela teve um sonho que ameaçava todo o seu desamparo:
Cansei de gente, quero cigarros.

Belém del Gran Pará

Em dias como esses não dá pra esquecer que se está em belém de meu Pará. A Chuva gostosa de maio no estilo "A ÁGUA DESTRUIU NOSSAS CASAS" não deixa dúvidas ; ou a greve de ônibus pra aumentar mais uma vez o preço da passagem. (A gente paga pra passar!) É a crise...
Muito provavelmente as aulas estão suspensas na federal e hoje é dia de ficar feliz porque não tenho compromissos inadiáveis, nunca mais os tive (e essa é uma questão de ponto de vista), e também não moro passando a augusto montenegro, ops Ícaro...
Um dia a mais de caminhada de fim de tarde e só. Que mal há? Quem sabe eu compro uma garrafa de guaraná garoto e me encosto perto dos emos da praça da república pra esperar a chuva ou algum assaltante.
É, quando eu falei Garoto na verdade pensei CERPA.
No mais, ruim mesmo é ser imune a tudo isso.
A gente cresce e aprende a gostar de guarda-chuva. Que chato, meu Deus.
Não que eu queira chegar a algum lugar, e não que eu não queira chegar a algum lugar, mas é que eu gosto mesmo
daqui.

5.04.2009

Foi que veio a vontade maravilhosa. Algo a ver com coragem e gratidão. Eu poderia falar das câmeras ou do sexo, eu poderia falar que são os homens, mas eu gosto tanto do resto todo que parece besta falar dos homens.
Eu poderia falar de tanta coisa, hoje eu tenho um mundo em trabalho de parto pra falar, mas é uma pena que não interesse a ninguém ouvir, nem mesmo a mim que já sei de tudo isso e amanhã um pouco mais.
Gostaria de pôr em ordem cronológica pra não ter que começar falando do meio, numa oração que mais parece justificativa de alguma coisa que não pergunta.
Se fosse pra começar eu talvez tivesse dito: Eu vim falar de mim que é só o que eu sei fazer. (Assim mesmo, com 3 vezes EU)
Mas tem o sexo e as câmeras, que colocando assim na mesma frase parece o que não é. Ah, se eu fosse de outro tempo e as pessoas soubessem o meu nome sem eu ter dito. Se eu fosse importante e morta seria bonito à beça. Talvez em vida eu soubesse, então, dizer o que hoje com dezoito anos desajeitadamente vividos eu tento.
Tem gente que tem bebês dentro de casa.
Tem gente que tem bebês dentro delas mesmas.
E os bebês têm a ver com muita coisa.
Tem gente que fala bonito com grandiloquência e ensina muita coisa, dessas que a gente gosta de acreditar que aprendeu.
Tem gente que até escreve direito, numa ordem lógica e cronológica.
Minha amiga agora tem mais três câmeras.
São essas felicidadezinhas, como coragem e gratidão.


E também tem o sexo, né...

5.03.2009

0.eu

Mastigados já não somos tão furiosos.

(Universo em desencanto)

Cantamos qualquer polifonia desengonçada que se pareça com nossa tristeza,
porque ela é ruidosa e tropeça em toda e qualquer pedra preciosa como o carvão.
Aparecemos sozinhos em fotografias.
Será possível viver um dia sozinho?
E se for possível como chegar ao final do dia sem se perguntar: como foi possível viver tão sozinho este dia?
Será possível viver um dia sem tragar fumaça de cigarro?

E/ou devo tomar menos café preto.

Somos nós tão solitários em mim. Tantos e tantos que se bastam e por isso não são mais que um. Ou metades.

Plural com gosto de cabo de guarda-chuva na manhã seguinte: festa na noite anterior.
Plural bem dormido: sonhos.
Plural dividido: dois menos um: eu sem ela, portanto, eu sem um bocado de eu = 0.eu

E alguns quebrados.


Mas fico tranqüila brincando com a pequena na sala, toda Rosa crescendo e rindo e fingindo que não sabe nada do mundo.

5.01.2009




Esse peixe eu terminei de fritar hoje de manhã, ainda tem a outra parte que é o resto da cauda. mas tô com preguiça.