12.23.2009



http://perambulario.wordpress.com

12.02.2009

Um novo homem

Um nome ele tinha quando menino e outro quando adulto. O de adulto era Leandro, o de menino infelizmente era imemorável e portanto, precisava ser visitado nas pesquisas demoradas dos cartórios e casas de parentes.

Num torto dia encontrou, depois de engolir muito pó dos livros das existências sociais. Era alguma coisa como Evaldo ou Jacó. Confundiu-se. Saiu andando tão pequenino que já nem se podia mais.

11.18.2009

Por uma questão de amor, hoje eu entendo mais sobre as amêndoas amargas.

11.14.2009

Da minha juventude

Tá, você acorda e tenta levantar mas não consegue por conta da dor insuportável que vem do tornozelo torcido/quebrado, mas não é só isso, existe um joelho também machucado que se tenta acariciar até perceber que a sua mão está esfolada, em carne viva (carne viva parece tão bonito mas não tem nada a ver com o real sentido visto que a carne das minhas mãos está mais pra morta do que viva), pois bem, você vira pro lado e descobre que existe um galo na parte esquerda da cabeça, não obstante, quando você procura averiguar se seus pertences ainda lhe pertencem nota-se então que em algum momento da noite o livro caiu da bolsa e você nem viu (ele jamais me perdoará). Mais uma festa. Eu não entendo quando eles falam do brilho da juventude.

11.08.2009

Uma lição de vida - para bananas

Helena disse para o primeiro namorado, que era dentista:

- eu sempre sonhei em namorar um dentista...

o segundo escultor:

- eu sempre sonhei em namorar um escultor...

o terceiro era carpinteiro:

- eu sempre sonhei em namorar um carpinteiro.

o quarto era corretor de seguros.

- eu sempre sonhei em namorar um corretor de seguros.

o quinto era mulher.

- eu sempre sonhei em namorar uma mulher.



Helena tinha sonhos polivalentes preparados para o mercado.
Amigos,

eu chorei,

sofri,

esperneei,

suspirei profundamente,

cantei músicas de amor quebrado,

falei da menina até esgotar,


fui até o resto do prato frio, afim de não deixar nenhuma migalha para os urubus da memória que me habitam, como aqueles que habitam o mercado do ver-o-peso na hora que o peixe chega do mar.

e eu, que sou dada a lágrimas sem razão, não poderia negar minha natureza e ficar impávida diante do que me aconteceu. fui até o último passo,

e vos digo, amigos,

minha fossa não durou nem uma semana. não porque eu deixei de ter sentimentos fortes e mágoas eternas de amor... mas porque ela não era um amor, era o meu recomeço, era o sinal de que eu tenho ainda a potência da paixão por dentro, em algum canto. Depois de ser transformada no pó da rabiola, eu renasço das cinzas - tal qual a fênix que ela tem tatuada no braço - para materializar-me amor.


então, se alguém estiver afim de uma dose, pode vir que eu tô facinha.

11.04.2009

Tempo...

Meus queridos, hoje eu vi um amigo morto

e agora tem essa culpa que eu sinto

quando penso na velhice que eu ainda posso ter
e ele não.
ORAÇÃO AO TEMPO


O mundo fala comigo.

Eu aqui chorando no amargo do meu quarto por quem não vale a pena

e o resto do mundo lá fora se doendo.




Quando foi que meus tempos se tornaram horas?
Quando que o meu passado virou atraso?
Como que o meu futuro virou destino?
Em qual história antiga
ainda habitam meus agrados e minhas meninas?

Qual será, no calendário, o dia exato

da minha velhice?






Acho que eu tô curada. Que engraçado.

Quero oferecer esta noite pra todos aqueles que não verão o tempo passar.

11.02.2009

cadê a sandalia?

aninha: nada dum chinelo velho presse pé cansado não?
eu: não, calço 44, é dificil de achar.E ainda tem um osso no meu pé que não fica bem em todos os sapatos.

Tocando de Ouvido

PALOMA
Aninha, eu tô com uma puta dor de ouvido; quando eu cago dói.

ANINHA
Então é melhor parar de cagar, é mais fácil tratar prisão de ventre do que dor de ouvido.


***


PALOMA
Vou jogar álcool no ouvido, pode?

ANINHA
Pode, mas isso faz quando entra água. Talvez seja esse o motivo da tua dor...

PALOMA
É...

ANINHA
Ou por ter ouvido muita merda...


(faz sentido)


***

PAPAI
Mamãe falava que urina era bom também...

PALOMA
Pai, fecha essa braguilha... peloamordedeus...

10.31.2009

Fim de Festa

Foi no mínimo simbólico o teu ato de apagar a luz e me deixar sozinha no quarto.
Neste instante a escuridão foi injetada em minhas veias todas, para desbravar meu corpo e inibir amargamente o meu coração de saracotear. Aí meus olhos se abriram num estalo estrondoso de interruptor e eu descobri: não quero mais gostar dela. Ou seja, além da lâmpada do quarto, tu apagaste a minha luz.

Descobrir uma querência dói mais que descobrir uma razão.

(Mais um coração partido no mundo.)

Então eu peguei seis horas de viagem, de Franca para São Paulo, num ônibus de chorar.

E tu ficaste na minha memória na pior das imagens: fumando o teu cigarro na beira da janela, com a expressão de quem sabe tudo de tudo.

E se não fosse o suficiente, eu ter me esvaído de sentimentos nesta itinerância, ainda fui burra de esquecer meus óculos de grau sobre a tua mesa - burra ou eu queria um motivo pra voltar? sei lá. - mais uma situação que bate no que eu sinto: por tua causa vejo agora a vida feito um borrão no meu cotidiano.


O conselho da Aninha, no final das contas, é o melhor:

cuidado com café/cigarro/aline.

10.29.2009

Eu não estou comprometida;
não parei de fazer teatro;
não deixei de amar o meu bem;
e não passei na prova de carro;

tenho que me desintoxicar desses nãos...
(e desses ais)

10.26.2009

É tudo assim ó: !
Falar demais! Beber demais! Fumar demais! Gostar demais!


DEFINITIVAMENTE: Tenho que me desintoxicar desses mais.

10.18.2009

Gente, tô comprometida.

10.13.2009

ai minha época do justus Chermont

saudade da minha época que eu estudava no justus chermont, de quando eu ficava de fulerage ca Helen, dars calcinha de renda da Neide, da cara de pau do Everton, de avacalhar ca cara da bebe-leite, da professora felicia, de pegar pau la no rio maguari, da puta da deyse que darra pra todos do convenho, da nossa merenda que arrente robava da banca do seu juraci, dars palhaçada que o spoka-bode fazia, dos meu xamego com meu Tyger, das nossas briga de soco com as meninas do souza franco, da sapatona da paola que tentava beija ars minina la da sala, ai era a maior sacanagem que agente faziamos, eu sinto uma falta, pena que larguei no 1° pq fiquei gravida da claudilene, agora to com 22 anos, e já tenho 3 filho, e ainda penso no estudo em fazer um tecnico de enfermagem pra poder dar uma vida boa pra claudilene, claudiano, claudisson. pena que nao tenho tempo, mas quem sabe um dia gente.

Bjks
Deusa Kelly de Souza Matos

Eu No Círio - Paloma Franca Amorim

Com o vendedor de fitinhas, santinhos e terços:
- Moço, isso aqui é fitinha de Bom Jesus de Congonhas...
- É tudo santo!
- O senhor é de Belém?
- Não, sou de Aparecida, é a primeira vez que eu venho nessa festa.

Em dia santo não chove. Em Belém é assim já faz séculos, a única água que cai do céu é dos apartamentos, atirada sobre a corda por todos os vizinhos do mundo para refrescar os promesseiros, eu mesma já joguei bacias e bacias de água da casa da minha tia na Avenida Nazaré. Quando eu era criança isso estava muito mais ligado à tentação da traquinagem do que a qualquer resquício de altruísmo em mim, tive que crescer para descobrir que água umedece a alma.

Aqui em São Paulo não foi diferente, depois de um longo friozinho de início de primavera, regado pelo desregulado clima da grande metrópole caótica, o sol apareceu e animou o meu dia. Peguei o carro e fui para o Círio que a comunidade paraense da zona Oeste faz numa igrejinha lá na Sumaré. De Círio vi quase nada, a Santa estava meio escondida atrás das barracas de maniçoba e doce de cupuaçu.

Comprei aquela CERPA e a vi esquentar em dois goles - lembrei dos bons tempos de chazinho de cevada na calçada da Pariquis, no antigo Café Imaginário.

Procissão não teve, teve fila homérica na barraquinha do vatapá. Haja fé!

Um pratinho ralo: R$20,00

Me contentei com uma empada de camarão & uma unha de caranguejo. Lembrei da praça do Carmo, no Recanto em que uma tigela de maniçoba era cincão.

Nem Guaraná Garoto tinha.

Eu meio deslocada fiquei olhando pela beira dos óculos escuros uma moça e um rapaz dançando aquele bregão jurunense que eu só ouvia de sábado à noite quando dormia na casa do meu pai.

Bati um fone pro Ícaro: ê! Feliz Círio!

Ele estava dormindo.

Vi uma menina que estudou comigo, fingi que não vi. Acabei parada no meio daquele pátio pensando que Círio de fundo de quintal é muito ruim, pior do que os forçados almoços em família que eu passei durante tantos anos, pior do que ter que representar o meu colégio na barquinha dos milagres, pior do que acordar às seis da manhã pra chegar cedo na Casa Chamma, pior do que andar oito quarteirões apinhados de gente pra chegar em casa no final do dia, pior do que o cheiro de mijo em todas as esquinas da cidade, pior do que passar por turistas deslumbrados que tudo tentam patentear, pior do que comer pato no tucupi aos quilos e passar mal depois.

No Círio de 2006 eu e minha irmã inventamos a palavra de ordem: Círio de Nazaré, perdemos a mãe mas não perdemos a fé! (Muito putas com a Nazica e com o João Carlos Pereira que era o porta-voz dela na TV Liberal).

Eu até prometi que ia na corda se ela sobrevivesse. Não me atenderam, pior pra corda que perdeu o meu corpinho sinuoso.

Quando eu ganhei aquele concurso de redação em 2002 (do qual ninguém se lembra porque todos perderam a fé!), o cara da rádio Nazaré falou:

- Quê que Plácido tinha na boca quando encontrou a imagem de Nossa Senhora?
- Hum... (Não, sei... eu sou atéia moço... deus é o sol.)
- Dentes!!!
- (Ah ê! Bonachão! Que anedota boa, campeão!) heheheheheeheheh!

Quando a mesma peste do apresentador perguntou para as meninas que ganharam segundo e terceiro lugar sobre a importância de Maria elas falaram sobre o Espírito Santo e a Santíssima Trindade.

Para mim surgiram três possíveis respostas:

1. Maria?! O nome dela não era Nazaré!?

2 Maria é 13! É PT! (Em função da nossa candidata às próximas eleições para a prefeitura de Belém).

3. Maria... eu não sei se é um homem, se é uma mulher... se é um espírito. É uma força muito grande. (Foi essa que eu escolhi, Luana depois disse que eu peguei pesado questionando o sexo da Santa. Tia Ana Lúcia falou que eu tentei romantizar a coisa e transformei nossa padroeira num travecão).



Minhas doces concorrentes usavam saias brancas, sapatos com saltinho, presilhas no cabelo e eu já era meio sapa.

Tio Sérgio me chamou para ler minha redação na casa dele, no dia da novena. Dona Sônia chorou bicas enquanto eu flertava com o neto dela.

Tá, Paloma, você é a porra-louca que Deus gosta. Complexo de Cazuza, quer chocar o mundo, quero-ser-tropicalista.


Não, não... eu só tô é com saudade.

10.11.2009

Promocional


PROMOÇÃO EU NO CÍRIO


São 4 blogueiros com 4 experiências diferentes desta festa da fé.

E você leitor, vai decidir quem vai ganhar esta berlinda de prêmios!



Brinquedos de Miriti!




Um pedaço da corda!





Uma bolsa de estudos na Paratur!



Vários Carros!

e...




UMA MEGA BALADA NA AVENIDA NAZARÉ!

10.08.2009

Não tinha como dar certo. É como eu tou te falando, o meu ônibus é o azul e o teu é amarelo.

Mas e daí?

E daí que é óbvio que vamos pra lugares diferentes.

10.07.2009

No dia 4 de dezembro de 2009 eu entrei num portal celeste, cuja chave foi um boa noite cinderela terrível que envolveu várias latinhas de cerveja itaipava, copos longos de steinheggen, caipirosca e buxudinha. depois deste fatídico dia, minha vida nunca mais foi a mesma. várias decisões irrefletidas foram tomadas e hoje eu pairo num disco voador observando a alta temporada de fascistas na cidade de são paulo.
depois do dia 4 de dezembro, eu:
beijei a boca do diabo;
atropelei um cachorro de ouro;
casei em las vegas;
divorciei em santa rita do passa quatro;
perdi uma perna,
perdi a outra... a outra perna.
caí num rio e me afoguei até desmorrer;
cantei uma música em silêncio;
aprendi a fazer luz a partir da ponta dos meus dedos;
larguei a terapia;
cacei um gueopardo australiano de listras blacks.
- ô minha linda.
- eu não sou tua nem sou linda.
- tá bom sua baranga.
Porra, gente, eu tô precisando de um mimo.

Chega de esnobadas.

Chama o Elevador/ Diz Que É Pra Voar

"Deixa que minha mão errante adentre atrás, na frente, em cima, embaixo, entre..."
Música pra que te quero.


Onde andam vocês?
Esse lar está cheio de palomices eu já estou achando um saco.


-Alô, Sibila, é a Paloma. Novidade né? Bom, Sibila, me liga por favor. Eu tomei no cu de chapéu.

Ela mais tarde:

- De chapéu????
- Opa. De chapéu.

10.05.2009

Volver a Los 17

- Ela isso, ela aquilo, ela aqui, ela acolá.

Olinda responde:
- Nossa, meu bem, não te vejo falando assim desde os teus 17 anos.



Agora ela é, tipo assim, de pra sempre.

10.03.2009

Golpe Militar em Honduras





Te inquieta?

Clica aqui.

10.02.2009

Escrito em 14 de Maio de 2005

Sobre Maio

Nem foi comigo. Foi com um menino que estudava comigo e se chamava Maio.

Todo mundo tocava a falar: esse Maio ainda vai ficar doido!

Isso eles falavam porque o Maio vivia sozinho, e o caderno dele, de cabeça pra baixo, eram poesias perdidas e mal terminadas. Ele fazia perguntas que ninguém sabia se haviam respostas, e se haviam, ficavam guardadas bem debaixo do fichário ou do livro, de um jeito que ninguém pudesse encontrar.

E andava todo descabelado também, parecia que não falava com um pente há anos... todo dia chegava bem atrasado e sentava na última cadeira da última fileira, junto com aquelas pessoas que nunca te olham nos olhos. Mas o Maio era o mais encantador.

Eu não sei porque resolvi falar dele, na verdade resolvi falar do único dia que consegui trocar uma palavrinha com ele. A gente estava na parada de ônibus e eu não poderia perder a oportunidade de avisá-lo que seu cadarço estava desamarrado.

- Maio, o teu cadarço tá desamarrado.

E foi só.

Teve um dia que ele estava estranho, estava pálido, mais calado do que normalmente, acho que estava passando mal, eu não sei, só fui me tocar mesmo quando o pessoal no meio da aula começou a se alarmar... e de repente nós armamos sem notar uma redoma em volta dele.

Eu não pude fazer nada porque ele já estava desmaiado, e nós já estávamos em Junho.

Casório = Casamento+Velório

O sol apareceu para tomar café. Ele tenta se sentar numa cadeira mas as janelas deste prédio são sempre tão fugidias, escondidas atrás d'alguma árvore ou embaladas por cortinas de caros panos.
Vejos os jovens casais descendo no elevador para mais um dia de trabalho, aquela alegria nos olhos, aquele evidente clima de vida perfeita, o lar, os filhos planejados, o papel de parede floral. A moça é linda com seus olhos claros, o rapaz começa a engordar um pouco porque a comida que ela faz é um manjar dos deuses.
Tudo é belo neste dia belo.
Minhas olheiras assustam estas criaturas. Olheira é coisa de gente que não dorme bem. E quem não dorme bem não merece o sol. Eu mereço, eu não dormi porque queria beijá-lo; mereço mais do que qualquer um.
Minhas amigas todas estão casando, estão vestindo sua carapaça de sonho, a maior das realizações sociais, a perpétua construção familiar, a aliança de ouro no dedo-que-nem-sei-qual-é.

Me perguntaram ontem se eu quero me casar.

Sim, eu quero desposar um samba triste.

10.01.2009

Dicionário Papa-Xibé

- O que é siricutico que você tanto fala?

- É uma mucura na barriga.
Arrumando a bagunça da sala de ser e/ou estar.

Gosto de gráficos, descobri isso ontem na aula de Iluminação.

Estou trabalhando num agora muito interessante: qual é maior valor do vértice do meu coração partido?

9.30.2009

Rodrigo Barata

Professor Marcante
Por Paloma Franca Amorim – Matéria: Didática


Certamente minhas inquietações sobre a arte e processos educacionais muito foram influenciadas por minhas experiências em sala de aula. Aqui apresento um dos professores que foi fundamental para que eu escolhesse a formação de licenciatura em Artes Cênicas.

Rodrigo Barata me deu aula de literatura num colégio particular, na etapa do ensino médio, durante três anos.

Embora ele fosse uma figura interessante, cheia de questões com a escrita e a cultura literária, sua avassaladora e forçada alma de artista (como chamam os pós-modernos) criava uma espécie de situação extremamente passional em toda e qualquer aula, ele ancorava sua didática na catarse da classe e na própria, atingindo inclusive um tom moralista-existencialista sobre a vida, de modo que suas aulas eram muito mais sobre ele enquanto criatura indecifrável do que sobre a vivência literária pela qual estávamos passando ou precisávamos passar, creio eu.

Entendo, portanto, que suas aulas tinham um caráter muito mais espetacular do que de compartilhamento. Eu sempre amei literatura, gosto muito de escrever, e num primeiro golpe de vista achei que aquela era uma tácita e potente, talvez a maior de minha vida, experiência com as palavras. Não foi. Até porque esta experiência para mim perdura, é cada dia maior, e se dá num campo pessoal, talvez muito parecido com o campo que Rodrigo insistia em construir em sala, um campo privado de assimilação pública e não de constituição pública. No caso de Rodrigo, a pura subjetivação publicizada.

Em minha opinião, isto cabe no processo educacional como força motriz e não como foco, visto que compartilho da idéia de Arendt sobre a educação enquanto iniciação de mundo público. Neste sentido, Rodrigo tinha um conteúdo rico de iniciação de mundo, mas se perdia na formas de um mundo privado que teima em colonizar o mundo público.

Minha maior questão em relação à arte toca justo neste ponto: em que medida a arte, esteticamente e politicamente, pode contribuir com a educação?

Em que medida um professor-artista (no sentido mais concreto e menos etéreo do termo) pode usar sua sensibilidade não para se descolar do mundo como um ícone de salvação ou rejeição a ser observado. Como um professor de arte pode utilizar sua matéria poética, intuitiva e teórica, para estabelecer relações com seus estudantes e seu meio público?

9.27.2009

Reencontro de Amigas

- Não tem mais nada a ver...
- Mas a gente sempre planejou isso.
- Não rola mais...
- Mas a gente fez o ginásio juntas!
- É... mas...
- E a gente trocava bilhetinhos... a gente era a nossa panelinha, a gente usou vestidos iguais na formatura! A gente fez teatro, dança, música, natação. A gente viajou pra Porto Seguro na oitava série, a gente era apaixonada pelo mesmo professor...
- Ah...
- Porra, a gente ia morar na mesma rua. Porra. Porra, qual é o problema da gente morar na mesma rua?
- Sermos vizinhas.

9.25.2009

26 de setembro

Exatamente hoje faz três anos que minha mãe morreu.
Minhas lembranças chegam com textura de sonho, porque na época era assim que eu via o mundo, por conta dos remédios e do meu barato romantismo adolescente. Hoje penso nestas imagens e tento extrair delas o choro mais concreto de toda e qualquer poesia.
No velório nós cantamos uma canção sobre a chuva para homenagea-la, de repente começou a chover. Mas não se enganem, a morte não é bela, é feia. Minha mãe parecia um boneco de cera triste.


Minha mãe foi o primeiro cadáver que vi na vida.

9.22.2009

O que eu não sei entender eu explico.

Exemplo: Meu nome gostar do teu e isto estar além do papai do céu não deixa.

Isto
e a parte confusa das invenções do homem, como a química e a física (os pedaços da ciência responsáveis pelo estudo das miudezas do mundo).

9.19.2009

Deus-Deus

- Deus! Que horas são? Eu tô atrasada!

- Ih, quando você começa a falar em Deus eu já acho que você voltou a tomar Rivotril, quando a mamãe tava no hospital você ficava falando de Deus o tempo todo, fé, oração, anjos... Tás tomando Rivotril?

- Não, foi só uma interjeição mesmo.

- Tá.

- Mas eu realmente estou atrasada e realmente tenho uma relação muito forte com Deus...

- É, né...

- É, eu normalmente me conecto com ele quando fico burra.

sapalominha

Voltando a assuntos menos dolorosos, depois de um mês inteiro juntando dinheiro eu finalmente vou poder ir ao MERCADOCAR!- Mercadão do Carro da Barra Funda!

Sem querer corroborar com comentários discriminatórios, admito que não é à toa que me chamam de sapaloma.

Na faculdade existe o conceito Sapatchornis, ou apenas Tchornis, que diz respeito à menina que:
1. fica bem com uma pochete.
2. abraça a Luana Gouvêia e parece sua namorada (Luana é a Rainha das Sapatchornis do departamento).
3. É foco de interesse amoroso do Tchello (Mas este critério soa bastante subjetivo e a gente nem aprofunda).

Sem entrar nos pormenores da fenomenologia do termo, anuncio também que este ano eu fui agraciada com o prêmio SAPATCHORNIS DO ANO na festa Churrave da Quel à Fantasia - Tema Universo e Cenografia de Tim Burton

*lembrando que Lucas, membro deste grupelho, já participou de uma das festas da Quel cujo tema era Os Sete Pecados Capitais Na Contemporaneidade Paulistana na ida época do Radiohead em São Paulo.

A alegria por ter vencido tantas outras meninas com potencial lésbico elevado, entretanto, não é maior do que a alegria do meu programa de tarde sabatina no Mercadão do Carro da Barra Funda, lojinha 24 horas, onde encontra-se capa para estofado, espelho retrovisor de vários formatos, alavancas charmosas para os bancos. Paralamas novos e semi-novos. Tudo que, por exemplo, o Aiola não tem. (Aiola é o meu carro, também afetuosamente chamado de Radiola Móvel, por conta da banda).

Fora isso, hoje é dia de oferta, quem sabe eu não compro aqueles dadinhos de Las Vegas ou uma nossa senhorinha pra pendurar na minha boléia?


Deus-deus, o que eu me tornei?!


Escrevendo aqui sobre o Mercadão do Carro...

pô... mas é o Mercadão do Carro, bicho...

Eu tenho uma relação muito legal com o Aiola, ele está todo fodido, rodado, com aquela cor já do burro que fugiu, já bateu em poste, já tirou naco de parede do estacionamento, mas continua lá, filme e forte. E a gente viaja muito juntos, Minas, Franca, Itapê, Tatuí, Itanhaém... eu e ele, sempre bons companheiros, auxiliando um ao outro com amor e carinho.

Final do ano eu vendo ele.

9.14.2009

Ele e ela eram gêmeos de pais diferentes. Quando a mãe morreu foi decidido em assembléia dual:

_ Vamos morrer.

As coisas precisavam acontecer do jeito certo.

Então acharam um descampado, antigo campinho de futebol tomado pela grama alta, sentaram no chão às 5 e 24 da manhã daquele dia e cravaram os olhos no Sol assim que dele tomara conhecimento o horizonte. Os olhos dos dois pregaram no sol simultaneamente de tal forma que parece até mentira, enquanto isso o resto da cidade olhava para o outro lado. E assim foi que o dia passou sem que por nem um segundo eles tenham desviado olho algum, nem piscar era permitido, acompanharam o movimento solar com suaves movimentos de pescoço, até que por volta das 5 e 24 daquela tarde ele falou pra ela:

_ Não sei não, mas acho que ninguém morre de luz.

_ Shhhhh.

8.31.2009

Sibilices

Querida Oráculo,

Venho por meio desta, apresentar minhas condicionantes para que nossos encontros prossigam de maneira frutífera:

1. Deixe o seu marido.
2. Abandone os seus filhos.
3. Não alimente os seus bichos de estimação.
4. Cancele todos os seus compromissos.

Fui alertada pela velha e boa Ana Cleide, entretanto, que terapia não é romance, então peço que você desconsidere esta declaração de amor.

8.14.2009

Recriar a própria existência

a grande obra do artista é se recriar a cada instante, as impossibilidades de lidar com o que já está criado (eu) por outros artistas nossos (pais) é o que nos torna verdadeiros artistas, artistas de realidade pura. Deixemos a criatividade que flui ser o objeto de estudo para outros.

8.13.2009

Quase todos os dias tento escrever textos para me contar.

Hoje, uma sensação que por horas me faz acreditar que só ela é a verdadeira, ela não vem com a incerteza dos dias felizes, apesar de mesmo nesses dias ser possível ela me tomar.
Não sei se por falta de amor, ou excesso, ou os dois, ou a sua completa inexistência, ou até mesmo a liberdade, que em sua impossibilidade se recria. E torno-me tão livre a ponto de não querer nada, de não ver nada, de não sentir nada, ao meu redor, o que existe não me remete, não lembra um sorriso que seja.
Naquela cama, na mesma posição permanecerei o tempo que for preciso. Eu sei. Não existe algo em mim.
Inexplicável, ela se vai. E por um momento imagino-a em mim de manhã e não me abandonando nunca.
Peso.

L. B.

O Gás Da Verdade

Pois eu tenho aqui um conto muito bom que afirmo ser digno de um fenomenal e extraordinário retorno.



Não é um conto. É uma pesquisa acerca do gás da verdade.
Como poucos sabem o gás da verdade é muito utilizado por psicólogos, professores e oficiais da lei - incluindo os polícias.

O gás da verdade costuma ser borrifado em ambientes onde se prevê confissão.
Depois que Walter Benjamin destrinchou de cabo a rabo a elaboração da experiência através da fala, os pesquisadores/capatazes das grandes indústrias em insurreição pacífico-científica resolveram colher na Bacia do Prata certa substância aquosa que decanta de toda narrativa alguns muitos milímetros cúbicos de mentira. Sua associação ao fluoreto de potássio culmina numa reação que provoca a inibição da fala mentirosa de modo que toda e qualquer alusão à verossimilhança seja aniquilada para que apenas verdades sejam ditas. Vejamos aqui, senhores, que a verossimilhança é em raiz parecida com a verdade, entretanto, ela caracteriza o discurso ao contrário da verdade, que o define. A verossimilhança é um mal social porque tem o poder de transformar mentiras em invenções críveis. Daí a perseguição aos artistas, no século XXI, que tanto quanto os charlatões se munem da verossimilhança para difundir o próprio ofício.

Transformada em gás, tal substância é vendida dentro de pequenos frascos borrifantes em farmárcias especializadas pelo Governo gerenciadas; apenas psicólogos, professores e oficiais da lei - incluindo os polícias - têm acesso à compra de tal produto.

Sua utilização em consultórios terapêuticos por exemplo, é simples e se realiza em questão de segundos. Algumas horas antes do paciente entrar no consultório, o profissional da psiquê borrifa três doses no batente da porta principal; o gás é inodoro e incolor, portanto, o paciente não tem consciência do processo. Durante a sessão, o paciente é obrigado por seu organismo a falar somente a verdade, facilitando o trabalho do terapeuta em interpretar objetivamente os caracteres da subjetividade.

No momento da imediata inalação, o gás da verdade não oferece nenhum perigo, entretanto, alguns efeitos colaterais posteriores foram detectados em testes com ratos, coelhos e porcos, tais como:

- Insônia
- Alucinações
- Síndrome da abstinência
- Dores de cabeça grau 5 (lancinantes)

Embora estes sejam problemas decorrentes do uso incosciente do Gás, alega-se que já não estão sob responsabildade do governo porque são naturalmente relacionados a outros fatores que não o processo confessional, tendo em vista que o processo confessional é entendido pelo sujeito como uma prática espontânea em que a fala mora nas pradarias do livre arbítrio.

O sujeito, que aqui podemos chamar afetuosamente de Alberto, pode no entanto perceber a presença do Gás se atentar para lisuras verticais impressas na porta principal do ambiente, marcas estas que se tornam indeléveis a partir do uso contínuo do produto.

Para cobri-las é indicado aos psicólogos, professores e oficiais da lei - incluindo os polícias, que utilizem panos e/ou lençóis brancos.

Entretanto, se Alberto for curioso e olhar debaixo dos lençóis, poderá ainda assim perceber a presença do Gás.

Tais procedimentos são reconhecidos pelo Ministério da Saúde e da Justiça e da Fazenda como socialmente eficazes, o que os torna legítimos diante dos Evangelhos modernos.

7.23.2009

essa noite comemoremos 1 mês de ócio
parabéns a todos nós!

6.24.2009

Rede Teatro da Floresta

http://redeteatrodafloresta.ning.com/

6.21.2009

FLASH MOB?



Flash Mob atualmente é como se designa uma ação previamente combinada, inusitada, na qual a dispersão é tão rápida quanto a aglomeração.



(Ironicamente, nas circunstâncias atuais da luta estudantil, o que define o Flash Mob é tudo que caracteriza a desmobilização do movimento. A ação previamente combinada pode se tornar um grande equívoco se for levada ao extremo, visto que o resultado num momento de tensão política é imprevisível – a não ser que a idéia seja gerar o caos; entretanto, responder o caos com o caos é nada mais que agir preconceituosamente, sem reflexão, vide Suely Vilela, Serra e sua Tropa).



Confesso que o meu olhar sobre essa mobilização relâmpago dos estudantes anti-greve é pouco generoso; particularmente achei uma manifestação irrelevante em relação aos acontecimentos dos últimos dias.



Senti, entretanto, necessidade de apontar uma fagulha nisto tudo que me parece interessante: o encontro travado entre os estudantes contra a greve autores do Flash Mob, funcionários e estudantes que apóiam a greve. Depois do patético incidente no Sintusp em que os estudantes anti-greve atrapalharam a Assembléia dos Funcionários, o espaço da prainha ficou cheio de pequenas rodas onde se discutiam as pautas e os porquês da greve; estudantes contra e a favor da greve tentaram por algumas horas esclarecer seus respectivos pontos de vista, este rascunho de diálogo já me parece bem-vindo. Claro que a grande maioria dos estudantes contra a greve pecou pela (inaceitável) desinformação, fato este que exaltou ainda mais os ânimos dos estudantes a favor. Infelizmente, em determinado momento a cena foi inundada por um grande falatório, palavras da ordem e quase nenhuma escuta.



A potencialidade do Flash Mob está na expressão de idéias opostas ao que vem sendo visto e pregado nas Assembléias do Movimento Estudantil, a possibilidade do contraponto e da construção de debate, o fluxo e contrafluxo de pensamento, mas essa troca se torna quase inviável quando um dos lados da discussão não tem aprofundamento e nem articulação política para o embate de idéias.



Outro ponto que para mim tira o crédito do Flash Mob é que sua organização foi feita entre pessoas que possivelmente não percebem a política como prática diária, através do orkut, msn, yahoogroups, ou outros programas de sociabilização cibernética do gênero – sociabilização cibernética em outras palavras é solidão, e não nos tiro da berlinda neste ponto.



Na parte da tarde os autores do Flash Mob iam se encontrar na Praça do Relógio para tentar outra manifestação. Mas aí minha parca paciência já tinha ido pelo ralo.

6.19.2009

Minha barata de estimação

Não tenho pé nem cabeça: sou só um toco, um tronco de corpo e que cria uma barata chamada Amanacy (foi ela mesma quem me disse seu nome). Tive que fazer um curso intensivo de Braile para entendê-la, afinal não tenho olhos nem ouvidos para xeretar as coisas mundo. Isso foi a única coisa que ela me disse sobre ela, e claro, também, que era uma barata, senão nunca teria descoberto, afinal nem olhos nem ouvidos.
Conversamos quando ela vai subindo pela perna, me dançando alguma canção de amor do bueiro mais distante. Corro por aí (e é muito difícil fazê-lo com as mãos) com a minha Amanacy agarrada no guarda chuva, voando igual a alguma coisa que eu nunca vi voar. Que linda!

6.18.2009

Barata Branca

No mundo das baratas nada se sabe bem ao certo . Mas foi que certa vez, de uma colônia não tão grande e não tão pequena, nasceu uma barata branca. De fato não sei se as baratas têm colônias ou se são sozinhas mesmo, se forem esta mais que as outras era a única dela. As baratas não costumam se dar nomes próprios, uma barata chama a outra de barata e vice versa, não há porquê nominá-las, ou numerá-las, são infinitas e a mesma, barata. Baratas são baratas e é assim desde o nascimento da primeira. Barata branca nascida de mãe barata e pai barata era branca, considerada a princesa do reino das baratas de esgoto da Trindade fugia todas as noites para se instalar nalgum muro branco que a camuflasse na sua albinisse e esperava o encaixe, lado positivo dela que era uma negação só, barata branco. Não saberia dizer que nessa busca ela deitou-se com algumas centenas de baratas-só-baratas, pois entendo que as baratas naturalmente deitadas já estão. Então ponhamos dessa forma, há de chegar o dia em que todos veremos barata malhada no chão de nossas cozinhas e box, milhares dela.
Barata branca, só eu mesma vi, e juro que se não fosse a minha ânsia de vômito por baratas eu bem que a levaria para casa, visto que a estimo muito, mas barata de estimação é coisa sem pé nem cabeça.

6.03.2009

Eu lembro da foto do Walter que tinha na coordenação da Escola de teatro, num açude, por aqui pelo Pará. Eu achava aquela foto linda e confesso que queria ter um dia uma igual com algum amigo meu no mesmo contexto.

6.02.2009

Tristeza

É pelos meus que aqui escrevo.
Morreu hoje um do artistas que fez parte de minhas primeiras andanças na escola de teatro.
Eu nunca o conheci de fato, nunca fomos apresentados, mas andávamos pelos mesmos lugares e provavelmente amávamos as mesmas pessoas. Hoje essas pessoas estão doídas, chorosas, tristes, debaixo de alguma mangueira da praça da República, lamentando a partida de mais um companheiro.
Faz menos de três anos nosso Luiz Octávio e nossa Darcy foram embora... e é curioso como nestas minhas andanças pela autonomia da educação, pela liberdade, pela força pública, pelo poder da palavras, pelos poeminhas de fundo de panela, pela sonoridade dos apitos, pela necessidade de dar cria, pela subjetivação da marginal pinheiros, pela canastrice sagrada de toda cena, eu acabei apagando da minha memória alguma dor que não se apaga.

O Walter Bandeira eu só conheci de voz e de oi, mas quem me consolará agora que os olhinhos da Olinda estão tristes no meu pensamento?

6.01.2009

Militares Invadem a USP

É por ser completamente ilegítima e anti-pública que se chama INVASÃO e não OCUPAÇÃO.

Notícia tirada do Estadão; notas pessoais.


SÃO PAULO - O campus da Universidade de São Paulo (USP) amanheceu ocupado pela Polícia Militar (PM) nesta segunda-feira, 1. Membros da Força Tática organizaram uma linha defensiva na entrada da Reitoria e viaturas foram destacadas para diversas faculdades. Por volta das 15h30, a PM deixou o campus.



Os policiais atenderam ordem da juíza Maria Fernanda de Toledo Rodovalho, da 12ª Vara de Fazenda Pública do Estado, expedida em uma ação de reintegração de posse proposta pela universidade.



A Reitoria, por meio de sua assessoria, informou que a ação de reintegração de posse foi proposta pois grevistas bloqueavam duas entradas do prédio desde a última quarta-feira, 27, impedindo a entrada de outros funcionários. Ao chegar no campus, porém, a polícia não se deparou com um bloqueio e decidiu permanecer "preventivamente".

NOTA: Do alto de seus coletes à prova de bala, a tropa de choque se colocou à frente da reitoria naquela costumeira postura opressiva, com seus escudos e porretes. Acredito que não basta questionar a atitude naturalmente agressiva da tropa de choque, mas sim a atitude da reitora que, ao ativar a tropa de choque deslanchou um movimento extremamente repressor e ditatorial que é, porém, velado por argumentos que se mascaram como política de apaziguamento e harmonização do corpo universitário.



O clima ficou tenso principalmente pela manhã. Pegos de surpresa, muitos estudantes consideraram a medida exagerada. Os funcionários, que decidiram ontem manter a greve deflagrada há 26 dias, marcaram novo protesto para quarta-feira, às 11h. Para os grevistas, a presença da PM foi "ditatorial".

NOTA: Medida exagerada é eufemismo. Militares na USP fazem sangrar a história do país. Esta situação não afeta apenas o corpo universitário da USP, mas também faz ruir o que resta dos nossos direitos públicos.




Para a estudante Lia Segre, que chegou à universidade às 8 horas e se deparou com a presença dos policiais, a medida faz parte da uma estratégia da Reitoria para acabar com a greve dos funcionários. "Os funcionários que não voltaram para o trabalho estão sendo pressionados por seus chefes para voltarem, e os que não voltam temem represália política", disse. "Essa reintegração de posse é um absurdo, pois o prédio não estava ocupado", afirmou.



O Sintusp exige reposição inflacionária de 6,1%, reajuste de 10% e a readmissão do ex-funcionário Claudionor Brandão, demitido em 2008. A USP oferece reajuste de 6,05% a partir dos vencimentos de maio e aumento de 16%, em média, nos benefícios

5.30.2009

Isto Aqui Não é Uma Crítica Teatral


Raptada pelo Raio - 30 de maio de 2009
direção: Cibele Forjaz
com Lúcia Romano, Edgar Castro, Christian Amêndola Moleiro e Paulo Azevedo.




Respeitando todas as possibilidades de vivência que o espetáculo pode conceder singularmente a cada espectador; digo - entredentes, sem titubear - que só de fatochega ao útero da narrativa, aquele que já lutou contra o povo raio em busca de alguém que partiu.

E voltou de mãos vazias para a casa-pele.

5.26.2009

ODE A LAURA LINNEY


Não vou aqui entrar no mérito da afirmação leviana do Oráculo1 sobre os ares aflitivos e estranhos de Carmen Maura, que para mim é uma das melhores e mais interessantes atrizes de sua geração.
Mas se vamos falar de atrizes, porque não tocar no nome de Carmen Maura? Que, para mim, é de fato uma das melhores atrizes de sua geração. Carmen Maura é uma GRANDE ATRIZ porque é despudorada, brinca em cena, assume a dor e a patetice de suas personagens (que em grande parte são almodovarianas). Carmen Maura é de um cinismo impreciso e delicioso.
Ela, assim como Martina Gedeck, está no topo das grandes artistas do cinema mundial.
E então temos Laura Linney. Quem é Laura Linney?
Foi indicada ou ganhou algum Oscar talvez. Ademais: quem é Laura Linney?
A antagonista do naco de carne Scarlett Johanson em Diário de Uma Babá; a insuportável esposa de Jim Carrey em O Show de Truman; a advogada de O Exorcismo de Emily Rose. Ou seja: cereja. Laura Linney é aquilo que pode se chamar tão somente de BOA ATRIZ.
Sejamos honestos, daqui a alguns anos quem vai se lembrar dela? A mãe dela. E só.
Mas em terra de cego quem tem um olho é rei; o que é uma BOA ATRIZ numa terra onde existem milhares de monstros sagrados? Laura Linney é discreta em sua interpretação, tem medida. O que seria do Jim Carrey em O Show de Truman sem a opressão materializada em sua esposa? Emily Rose nem seria lembrada depois de sua morte se o padre não fosse processado e sua advogada não o tivesse defendido com primor. Pior: não lembraríamos que a jovem foi vítima de uma possessão demoníaca. Laura Linney alcança patamares religiosos com o seu talento - que é um talento milimetricamente dosado, mas é um talento.
Laura Linney existe para fazer os outros brilharem, como o sol que empresta o seu brilho para a lua viver altiva; mas quando namorados querem experienciar o momento mais romântico de suas vidas, eles não escolhem o sol, escolhem a beleza de uma noite de luar. Se Carmen Maura ou Martina Gedeck estão no recinto ninguém olha para Laura Linney, e ela humildemente fica recolhida a sua insignificância, portando-se como uma BOA ATRIZ.
Uma BOA ATRIZ não faz escândalos em busca de reconhecimento midiático.
A Laura Linney pode fumar, cheirar, beber até o cu fazer bico, mas nós nunca saberemos. Laura Linney pode se casar com o Sarney que não fará nenhuma diferença. A sua discrição evoca no público alguma indiferença.
Eu ponho minha mão no fogo por Laura Linney, sei que ela nunca será agente de um bafão.
Aqui deixo minhas palavras em homenagem a esta irrelevante artista de Hollywood que não mora em nossos corações e nem marcou nossa existência e por isso, possui eternamente um pedacinho carinhoso do nosso esquecimento.




1Oráculo é um persaonagem ficctício. Qualquer coincidência é mera semelhança.
"E essa menstruação que não desce? Já tá até estufando minha barriga."


(Luana, aos quatro meses e meio do segundo tempo)

Confissões

Hoje ele tava cheio dos siricuticos e aperreios, então eu falei:
-Vai, me conta o que está acontecendo.
Ele foi buscar café e contou pro café, ficou no café até eu me cansar de não saber; mais tarde (umas duas e quinze da tarde) eu dei uns tapinhas nas costas dele, como quem não quer nada, e soprei: quando você quiser conversar eu estou aqui. Então ele foi trocar uma idéia com o cigarro.
Mais tarde fiz a última tentativa, olhei pra ele com olhinhos de compaixão. Mas bem na hora da olhada ele tropeçou e nem percebeu, foi chorar as amarguras com a boca no chão, eu corri para socorrê-lo já na tentativa de aproveitar a deixa. Depois de litros de sangue jorrado e litros de gelo para estancar feridas, ele desatou:
- É que acho que vou terminar com a Luiza, já não gosto mais da Luiza como antes.
- Não? E como você gosta agora?

Com a boca embotada de hematomas e segredos, ele revelou:

- Agora eu gosto dela como um homem gosta de outro homem.

5.25.2009

subjeito e a chuva

hoje sou abcesso, a espera de unhas que me apertem, jorrando todo pus que me há, conhecidos meus me esvaziam os sentimentos, ausentes nos assentos, me restando só o conhecimento, como a chuva que deslava e me suja, entristece. 
anteontem eu pensara na chuva de outrora olhar, que profundo me deixava e agora a chuva suja me deslava e me esvazia.
quero sentar no assento do subjeito profundo de sensação, e de conhecimento descartado.
faço um ato, um pedido, pra que a chuva toque a pele do subjeito e ganhe sentido. 
e que esse subjeito, no alto de sua torre de efeito, seja espelho limpo, minto, que a chuva lave esse espelho, deixando sujo e feio, só sensação, sem percepção. estético, não estático.

5.23.2009

Esboço de esboço

- Tava gripado, dei um espirro, mas acho que tinha amor no meio, por que ela olhou pra mim de um jeito que não se olha direito; meio lente nova, meio filho, mesmo. Aí eu fui embora; não demorei pra entender que eu não nasci pra amor.

5.20.2009

O dia tá lindo

5.19.2009

Planta carnívora.

Deus em sua magnitude criou a terra e o resto.
Papai não acredita.
E olha que eu pequena já usei de todos os argumentos mais convincentes que ELE pôde me enfiar goela abaixo.
Não me importo mais com a descrença. Meu pai é descrente, e acho que o não temer a Deus deve de estar no sangue (tomara).
Enfim, não teve jeito.

Meu pai é de uma raça rara de gente que se fode. Nascido com o calcanhar de Aquiles duas vezes nos dois pés e as 7 pragas do egito 7 vezes recaem sobre ele a cada 7 meses desde os 7 anos. Já muleque aprendeu a gostar de gafanhotos (papai é do tipo que jamais os arrancava as pernas ou os queimava no sol com a lupa).
De tempos em tempos acontece um sacrifício, corpo e sangue e blá blá, aquela velha história. Um velho testamento que a gente bem conhece, em que eu só hei de herdar o sangue-veneno, pra mais tarde parir meu filho descrente. Igual ao avô, portador de seu armagedon, pra falar a verdade eu não tenho certeza do significado da palavra armagedon, mas seja lá o que for me parece apropriado. Ele é a caixa de pandora dele mesmo. Ainda bem que é fechado (com excessão dos domingos de festa).

Parece que o planeta inteiro foi feito de par, só eu que me chamo Ana.
Em minhas contas o número de seres humanos na face do mundo é ímpar, e está na cara que só pode ser eu a azeitona que fica na caixa de pizza, é pra compensar a parte da maldição que não me coube no sangue.

Daí que numa conversa de bar que não se deu num bar alguém vem me perguntar das plantas carnívoras. Planta carnívora.
É uma planta que mastiga, se isso não é Deus eu não sei de mais nada. E essa não é uma conclusão muito inteligente.
Quando eu for mais feliz, alguns 10 anos mais nova, algumas 10 amarguras a menos, eu explico pro papai, e ai dele se não entender. Aposto que a planta carnívora já sabe de tudo. Porque do mastigar pro pensar é só um pulo.
Papai mastiga e pensa, mas não pula. Faz parte do castigo.
(Eita que às vezes eu queria a força da descrença.)

5.17.2009

Me mudar

Veja bem, meu irmão
que o planeta que vem
é vermelho e azul
e nem vida ele tem

Por isso não se assuste se você se apaixonar
e, talvez porum motivo
você queira lá morar

Eu entendo
Eu entendo

5.13.2009

ASSEMBLÉIA

Por favor, quem lê isto aqui, manifeste-se até o dia 13 neste post.

Obrigada,

Comissão Avaliadora de Processos de Permanência.


ZOEEEIRA

5.10.2009

Queria dividir a dor de um livro com vocês; paro agora de ser uma esponja que absorve toda a dor das páginas para me tornar uma lâmina que só reflete tudo o que se sente.
Não tenho como explicar o trecho que me fez isso, seria inútil também transcrevê-lo e também não vou indicar o livro, por que meu pai já me disse que nessa idade as conseqüências podem ser irreversíveis. Infância, dor e conseqüencia. Eu sei que essas três chaves são tudo o que sou hoje, e sei também que é pelo menos um pouco de vocês, meus amigos.
um brinde ao sex de todas as pessoas desse blog!

5.07.2009

Assembléia

Por favor, quem lê isto aqui, manifeste-se até o dia 13 neste post.

Obrigada,

Comissão Avaliadora de Processos de Permanência.

Suprimento da Maldade

Daniela não tem verrugas, não tem pernas manchadas, braços marcados, barriguinha, pele oleosa, olheiras profundas e ressaca.

Ontem eu tive um pensamento genial mas não lembro dele.

Esta mulher Isabela de voz feia era muito atraente, havia algo de especial entre o seu corpo todo o resto. Esta mulher era um pouco mais bonita que sua mãe; e sabia ela, nos quase longos vinte e tantos anos que sua filha seria um pouco mais bonita que ela mesma, a mãe. Não sabia, porém, naquele instante, que estava grávida.
Na infância, perguntava a irmã mais velha se havia dor no sangrar de todos os meses, a irmã respondia às vezes dói às vezes é bom. Às vezes rasgava, às vezes ardia, às vezes angustiava, às vezes era alívio.

Ela bem sabia que toda a conversa que começava com o assunto sexo, terminava também em sexo, e uma vez, com o tal rapaz do bar envolveu-se na inércia da temática, e acabaram os dois por fazer sexo.

Eu tenho tanto ciúme mas tanto ciúme mas tanto ciúme que sou capaz de só viver de outro.
E ela teve um sonho que ameaçava todo o seu desamparo:
Cansei de gente, quero cigarros.

Belém del Gran Pará

Em dias como esses não dá pra esquecer que se está em belém de meu Pará. A Chuva gostosa de maio no estilo "A ÁGUA DESTRUIU NOSSAS CASAS" não deixa dúvidas ; ou a greve de ônibus pra aumentar mais uma vez o preço da passagem. (A gente paga pra passar!) É a crise...
Muito provavelmente as aulas estão suspensas na federal e hoje é dia de ficar feliz porque não tenho compromissos inadiáveis, nunca mais os tive (e essa é uma questão de ponto de vista), e também não moro passando a augusto montenegro, ops Ícaro...
Um dia a mais de caminhada de fim de tarde e só. Que mal há? Quem sabe eu compro uma garrafa de guaraná garoto e me encosto perto dos emos da praça da república pra esperar a chuva ou algum assaltante.
É, quando eu falei Garoto na verdade pensei CERPA.
No mais, ruim mesmo é ser imune a tudo isso.
A gente cresce e aprende a gostar de guarda-chuva. Que chato, meu Deus.
Não que eu queira chegar a algum lugar, e não que eu não queira chegar a algum lugar, mas é que eu gosto mesmo
daqui.

5.04.2009

Foi que veio a vontade maravilhosa. Algo a ver com coragem e gratidão. Eu poderia falar das câmeras ou do sexo, eu poderia falar que são os homens, mas eu gosto tanto do resto todo que parece besta falar dos homens.
Eu poderia falar de tanta coisa, hoje eu tenho um mundo em trabalho de parto pra falar, mas é uma pena que não interesse a ninguém ouvir, nem mesmo a mim que já sei de tudo isso e amanhã um pouco mais.
Gostaria de pôr em ordem cronológica pra não ter que começar falando do meio, numa oração que mais parece justificativa de alguma coisa que não pergunta.
Se fosse pra começar eu talvez tivesse dito: Eu vim falar de mim que é só o que eu sei fazer. (Assim mesmo, com 3 vezes EU)
Mas tem o sexo e as câmeras, que colocando assim na mesma frase parece o que não é. Ah, se eu fosse de outro tempo e as pessoas soubessem o meu nome sem eu ter dito. Se eu fosse importante e morta seria bonito à beça. Talvez em vida eu soubesse, então, dizer o que hoje com dezoito anos desajeitadamente vividos eu tento.
Tem gente que tem bebês dentro de casa.
Tem gente que tem bebês dentro delas mesmas.
E os bebês têm a ver com muita coisa.
Tem gente que fala bonito com grandiloquência e ensina muita coisa, dessas que a gente gosta de acreditar que aprendeu.
Tem gente que até escreve direito, numa ordem lógica e cronológica.
Minha amiga agora tem mais três câmeras.
São essas felicidadezinhas, como coragem e gratidão.


E também tem o sexo, né...

5.03.2009

0.eu

Mastigados já não somos tão furiosos.

(Universo em desencanto)

Cantamos qualquer polifonia desengonçada que se pareça com nossa tristeza,
porque ela é ruidosa e tropeça em toda e qualquer pedra preciosa como o carvão.
Aparecemos sozinhos em fotografias.
Será possível viver um dia sozinho?
E se for possível como chegar ao final do dia sem se perguntar: como foi possível viver tão sozinho este dia?
Será possível viver um dia sem tragar fumaça de cigarro?

E/ou devo tomar menos café preto.

Somos nós tão solitários em mim. Tantos e tantos que se bastam e por isso não são mais que um. Ou metades.

Plural com gosto de cabo de guarda-chuva na manhã seguinte: festa na noite anterior.
Plural bem dormido: sonhos.
Plural dividido: dois menos um: eu sem ela, portanto, eu sem um bocado de eu = 0.eu

E alguns quebrados.


Mas fico tranqüila brincando com a pequena na sala, toda Rosa crescendo e rindo e fingindo que não sabe nada do mundo.

5.01.2009




Esse peixe eu terminei de fritar hoje de manhã, ainda tem a outra parte que é o resto da cauda. mas tô com preguiça.

4.30.2009

1/2 peru 1/2 peixe

Perigo na via

Atenção!
Mantendo na reta...
Desliga o pisca. Ali do lado, ó. O pisca, querida.

Você tá desenvolvendo alta velocidade...
Já estaria reprovada.

Segunda marcha.
Segunda marcha, eu disse!!!
Pára! Pára! Não tá engatado!!!
Eu sei que você é uma moça inteligente, então eu vou falar só uma vez.
Essa aqui é a 4ª e essa é que é a RÉ. É essa aqui, olha!!

Tá já deu por hoje.

É, pára aqui.
Olha o mendigo!
Aqui é parada de ônibus, mas tudo bem. Desce. Desce.
Vamos precisar de aula extras, ok?

4.29.2009

Musa




Essa vai pro fotolog!

(Leiam como se fosse o Cazuza, ou o Elói Iglesias, ou o Julio Iglesias

Senhoras e senhores! Trago boas nova...eu vi a cara da morte e ela estava vivâ, viiiiiiva.
(agora normal)
Estou 94,5% ok. Não tô com tuberculose, yeaaahs. Tudo isso graças primeiramente ao Caio, depois minha família, Deus e meus ancestrais, depois a Pastoral da saúde e a da terra, que me deu lugar onde ficar nesses tempos, pois é esse foi o top top da minha recuperação.
Estou com saudades de todos. Tô voltandinho pro Cuíra pra ensaiar de leve, depois vou ver se ainda consigo voltar pra escola e entrar no teatro universitário...tirando outras todas as coisas da minha vida que eu deixei de fazer; entretanto aos poucos senão eu me futcheka denovo.
Só pra não ficar muito superficial, escroto, mau escrito e sem propósito isso aqui, eu lanço um desafio que eu ia colocar em outro post...procurem na cidade "slogans de lugares escrotos porém geniais". Poderia ser "slogans geniais de lugares escrotos" mas não é. NÃO É PORRA. Hoje eu achei a minha:

Desu
Por aqui você passa.

Te amo.

4.24.2009

anarquismo literário

pedras embrulhadas com poesias e textos, livros, garrafas com textos, invadindo a casa das pessoas por suas janelas e portas sendo jogadas por pessoas de mascaras, sem permissão, no perigo da madrugada.

pessoas pregando em praças e ónibus palavras de Rimbaud, Proust, Machado de Assis, clarice, Goethe e tudo o que estiver nas leituras dos padres e pregadores de literatura.

textos pixados no asfalto.

palavras de fita crepe nos carros estacionados formando frases em avenidas.

a palavra como arma

violência textual

4.23.2009

Atentado ao despudor

- Por exemplo, agora, foi você quem me beijou primeiro.
- É fui eu.
- Então acho que você estava com muita vontade.
- É, eu estava.
- Então acho que você gosta muito de mim; até pra fazer tanta questão de me beijar assim. Você também adora esbarrar comigo em algum corredor, ou alongar nossas conversas, ficar me olhando meio sem graça, fazer piadas na hora errada.
- É, eu faço bastante isso; mas eu também não tenho sangue de barata, né? Você é aí toda linda.
- Então larga essa faca... por favor, larga essa faca... laaaargh!

Fleur da pele

Nasceram violetas nos meus calcanhares...

Meu amor

4.22.2009

Ele cansou de me dizer.



Feriado. Confere.
Sundown. Confere.
Mochilão. Confere.
Rolo de papel higiênico. Confere.
2h de barco. Confere.
Trator. Confere.
Bolsa térmica nova schin. Confere.
Vaso sem descarga. Confere.
Minha cicatriz em processo de bronzeamento. Confere.

Cotijuba é lindo!

4.21.2009

ego-arte

artista em fo(r)cado, objeto(ivos) de lado!
Isso que eu sinto está tão forte,
mas tão forte, mas tão forte,
que eu poderia colocar no calendário assim:
Dia 21 de Abril, o dia da tua ausência.

Eu fiz cortejos, canções, estátuas de areia;

E só o tempo dirá
se faz algum sentido
eu te colocar na borda de um poema.

Daqui a 50 anos eu vou rir de mim mesma e me achar barata com minha frases decorativas.
Viajar pela memória é absolutamente lindo e trágico,
Hoje é o dia do trágico,
e eu rezo pra daqui a 50 anos: eu vou estar velha o bastante, assim como minha memória, quero que meus pensamentos fiquem a dormir numa cadeira de balanço,
A mãe morta não é mais a mãe.

Noite passada eu sonhei com minha mãe

Hoje não pode haver falhas,
O frio não pode chegar,
O sol não pode ficar gelado,
O interior da casa não pode apenumbrar,
Mas hoje faz frio,
o sol gelou,
e o interior da casa
é alma de sombra.

4.20.2009

Festa na casa do Zé

Banheiro da casa. Despejam aquela merda velha fermentada no canto errado.

- Porra, é tranquilo beber aqui em casa, mas cagar no bidê é foda, Amandinha.

Na sala as pessoas escutam Amy Winehouse e acendem incenso para esconder algum crime. De repente o estudante de Artes Plásticas da Belas Artes fala em alto e bom som: A arte me transcende! A arte me transcende! Depois disso começa a pintar seus braços, pernas e rosto com urucun azedo e páprica.

Alguém entoa um discurso burguês sobre Marx e nossa potencial energia para mudar o mundo.

Na cozinha as pessoas abençoam a larica da madrugada.

Tem um casal que nunca se viu na vida aos beijos em cima do puf.

No cantinho um violão desafinado, sem a nota ré, evocando os mais variados roquepopes juvenis.

Sete garrafas de rum, e os piratas são humilhantemente vencidos por si mesmos.

(Olha como nossos programinhas são legais).

4.18.2009

ontem fiquei triste por que o ícaro não foi a festa, mas não pelo fato de ele não ter ido, mas sim porque eu liguei pra ele e esperei que ele fosse direto e sincero comigo de como eles estava se sentindo e porque não queria ir, eu entenderia, gabriel disse que agente precisa resolver esse problema, eu achava que não tinha problema algum, na verdade é só uma fase, uma fase em que eu não quero buscar entender ninguém, e em que o Ícaro e sua semiótica precisam ser interpretados por alguém que precise entende-lo. eu não preciso por que gosto dele assim, sem entender, não entendo nem a mim. mas ontem vi que ele ta certo e errado, ele está buscando um outro nível, outro significante da palavra confraternizar, cansou do significante festivo da palavra, nesse ponto ele ta certo e eu entendi isso ontem, mas também acho que ele adoece porque não conseguiu achar esse outro significante, o problema é a palavra confraternizar que precisa de mais sujeitos pra significar algo, talvez por isso a resignificancia dela seja quase impossível. apesar de todas essas divagações ele sabe que eu o amo, e elas também. ?
E vai ter o dia em que eu vou falar: Estou indo embora.

E vou embora.

4.17.2009

Tenho que fazer um exame de escarro e um exame torássico. Eu fico imaginando como deve ser esse primeiro; deve ser tipo uma fila de pessoas cuspindo catarro verde no rosto das enfermeiras, e elas fazendo sinais com o dedo de legal, ou fazendo a gargantinha cortada com a mão pro médico. Talvez eu esteja com tuberculose, talvez só esteja com um cancro no pulmão...quero que tudo isso acabe. Essas semanas tomei mais remédio do que na minha vida inteira. Tô me sentindo muito vulnerável...por isso hoje não vou pra aula do Cesário, pra ele não humilhar minha postura me fazendo sofrer. Nem vou pra festa por que não dá.
Que saudade de vocês. Menos da aninha.
Torçam por mim! Talvez eu esteja com tuberculose...

4.15.2009

Portaria

Tem sido difícil ter os dias todos para mim, ser o centro do meu universo, e arranjar alguns planetas que queiram me circundar quando não estiverem muito ocupados-e-por-favor-não-quero-incomodar. É que eu não tenho muito o que fazer com a minha órbita além de captar bastante lixo tóxico, meteoritos e mais e mais poeira dos astros.
Daí tem o porteiro noturno, e só ele tem o poder Deus de me reprovar com um: Bom dia, senhorita!
Enquanto eu insistentemente respondo: Boa noite!
Como bom universo que sou me permito ditar o que é dia e o que é noite, e para mim não há respostas erradas, mas uma divergência de opiniões, é que eu só vejo mesmo um verso das coisas, o meu. E ele que não me peça para ser universátil que malmente sei ser universitária. É claro que ele não sabe nada disso, tudo que ele sabe é que eu sou prostituta e que existe uma nobreza de caráter em chamar uma prostituta de senhorita.
A meta agora é acumular energia para implodir novamente e formar em pouco mais de zilhões de anos e meio uma grande populaçãozinha, em algum dos meus planetinhas, de gente que se goste feito o Ícaro, a Paloma, o Lucas e a aninha fazem. Não que tenha alguma coisa a ver com as minhas bebedeiras, ou o lixo tóxico, ou o porteiro noturno, mas é que seria realmente
bom.

4.14.2009

BÚSSOLA




Com oito anos fui quase Jesus Cristo crucificado; pelo menos um prego atravessando a sola eu já tinha.

Até hoje sinto as dores da chaga, e me pergunto: pra quê abrir outras chagas?
Já basta esta única pedra no meu sapato gasto.

Meu pé é o que tenho de mais privado caminhando sobre o que existe de mais público, o mundo.

O NORTE DO PASSADO:

Izadora pergunta do banco de trás do carro para o pai que balbuciava palavras quase silenciosas:

- Papai, com quem o senhor está falando?
- Estou falando com os meus botões...
- Mentira, que os botões não falam.

É extraordinário como o imaginário infantil pode subverter até a mair refinada metáfora filosófico-adulta.
Da espécie de moças bonitas que agora são velhas: espia lá no fundo de cada ruga e entenda algo sobre beleza e juventude que só se revela depois de exatos 52 anos.

Até o final do dia resolver: ou escrevo um livro, ou compro uma bicicleta, ou tenho um filhinho, ou planto uma árvore, ou faço mestrado.

Dia furado, só futuros.

Fiz um planejamento que dará errado lá pelo ano de 2029.

Enquanto isso perguntam para minha mãe se foi difícil me parir. Ela responde:

- Claro, não era qualquer filha. Era uma filha da puta.

4.11.2009













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4.09.2009

Farinha

Então tinha esse lance dos dois, a comida.
Ou melhor, a fome.
A fome era o desejo primeiro, e depois chegavam as maneiras de saciar este desejo primeiro. (fome de sal, fome de trepar, fome de pato no tucupi, fome de engolir o rio numa colherada só)

Numa outra história que anda morando por aqui na cabeça, tem também esse compartilhamento, mas de outro jeito, era o café da tardinha, café com leite, pão e manteiga e queijo, goiabada, broa de milho (porra, eu adoro broa de milho), depois lavar as xicrinhas na pia, ver o fim do mundo chegar no quintal de bobeira, só pra vida bocejar.

Aí nas duas histórias tem um momento de solidão, sei lá, caso de casal que não se quer mais diz tchau e vai embora; a situação do compartilhamento fica só na saudade portanto. E na verdade a trama começa já no campo da falta, não tem cena de amor, de lágrima, de separação, nas duas histórias as moças já estão sozinhas, cozinhando.

Uma eu já sei, inventou de assar biscoitinho de aveia, está empoada de farinha de trigo, com as mãos oleosas de manteiga pra massa não grudar; não tem ovo na geladeira, e só precisa de UM ovo na receita, ela então desce duas ruas até o supermercado atrás de UM ovo, mas ovo não vem de UM, vem no mínimo de seis. Então ela pega uma caixa sem perceber que um dos ovos está podre, não percebe porque não dá a mínima para os outros cinco ovos que restarão, ela só precisa de UM que seria escolhido num jogo entre o tato e a livre combinação matemática.



Ao passar pelo caixa percebe que a caixa de ovos está vazando, e pela primeira vez arrisca dar uma olhada para apurar o crime. Cinco são meio vermelhos, de cara viva, um é amarelecido, quase esbranquiçado, e debaixo dele uma mancha gema forte marcando o papelão. A atendente faz um escândalo tornando a situação ainda mais incômoda.
Cheiro incômodo de ovo podre.

O gerente do supermercado passeando por ali comprou a briga, mandou jogar fora a caixa, disse pra um empacotador ir voando pegar outra para repor.

Um ovo morto que matou os outros.

Entretanto, essencialmente, um ovo morto não precisa sacrificar os outros para ser aniquilado, por isso ele cheira tão mal, num alerta individual que deveria evitar o aniquilamento de outro ovo, saudável.

Uma possível omelete saudável, ou bolinho de chuva.

As pessoas é que têm nojo demais. Como a moça do caixa que passou álcool em tudo depois do acontecido.

Como o rapaz na fila que pensou: como ela não percebeu que o ovo estava podre?

A moça nem vê nada disso, pega suas compras, outros seis ovos novos e bons, sobe duas ruas e volta ao primeiro momento da história.

Eu, que não levo desaforo pra casa, no lugar da minha moça teria dito:

O CASO AQUI É O OVO,
MAS TAMBÉM NÃO É O OVO. NEM OS OUTROS CINCO,
CONTAMINADOS OU NÃO,
O CASO AQUI É O OVO PODRE
MAS NÃO É O OVO PODRE.

CARALHO,
EU SÓ QUERO MEU BISCOITINHO DE AVEIA.


Bom, sobre a solidão, não sei...

Pode ficar bom tacar uma dor de peito nela em algum momento.

Eu me perdi.

4.08.2009

4.07.2009

O que dá pra fazer com amor solado?

(Com o bolo eu ponho sorvete em cima e fica tudo bem)

Ando misturando um pouco de cerveja e bons amigos, até que dá pra comer. Até que dá pra achar bom. Até que dá pra guardar na geladeira por tempo ilimitado até a barriga roncar de novo.
Quem sabe aí eu volto a ganhar peso. Quem sabe aí eu não aprendo algumas receitas melhores. Daquelas acima de 10 milhões de calorias acolhedoras e aconchegantes. Dessas que deixam a gente mais que cheio, quase que não vazio.

Quando criança eu quis ser Chef. Mas o que eu posso fazer se me puseram no teatro e a ordem é fingir e só?
É. Eu tenho esses problemas com comida.

4.06.2009

Portinha

Eu quero um doce da Portinha.

A primeira vez que fui à Portinha foi em outubro de 2005, tenho certeza porque era época de Círio e foi um ano antes de eu me mudar para São Paulo.
Eu e o Renato nos encontramos no píer das Onze Janelas e lá eu contei pra ele que estava namorando, ele também me contou alguns segredos inconfessionáveis e tocou boas músicas ao violão e o finalzinho da tarde era quase tão fascinante quanto ele.

Portinha era meio cômodo de uma casa na Cidade Velha que havia sido transformado em lanchonete (daí o nome de coisa mínima).
Na Portinha vendiam:
A melhor empada de jambu da cidade
e o melhor bolo de chocolate.


Lembro com ternura que foi o Renato que pagou o meu Guaraná Garoto.

À meia-noite os fogos no largo de Nazaré. Como eu morava mais ou menos perto dava pra observar o céu iluminado da varanda, com o pescoço entortado. Minha mãe disse que os fogos reluzentes no escuro pareciam aranhas explodindo, criando teias e parindo filhas que criavam outras teias e pariam outras filhas.

O Renato disse que a nossa casa era só poesia.

Até então eu não sabia, nem imaginava que pescoço entortado dava poesia.

4.02.2009

Empreendimento




Muitos bichos na minha cuca. Alguém quer fazer sociedade?

3.31.2009

Som pra Padre Ouvir

Há canções que chamo muito particularmente de canções confessionário. Não por um motivo romântico embalado por letra cheia de euteamos ou qualquer termo lírico equivalente, nem por uma reação emocional-sinestésica à beleza melódica proposta por acordes dissonantes; as canções confessionário são assim chamadas por serem segredos pagãos dentro dum baú divino. O AMOR é matéria mais recorrente para compor os segredos pagãos das canções confessionário, o AMOR em todas as suas acepções humanas, portanto, a musicalidade está no idealismo, no ciúme, na paixãozinha de final de festa, na saudade, na falta, na loucura, no derretimento, e daqui pra frente é uma lista infinita de sentimentos que, curiosamente, se potencializam em condições ideais de temperatura e mistério.


CONFESSIONÁRIO (Experimento primeiro - Feita numa manhã caótica de noite não-dormida. Amor que não pode ser prenunciado por uma bola de cristal. De tão velado engana até os deuses.)

Ah, cadeira matinal,
Toma um pouco do café,
E um pouco do sabor
e um pouco do que é
a borra do café: tudo borrado.

Ah, a mesa está de pé
quebrado
Manhã torta 'tá avisado
é amor, é amor

Mentira, papo furado
é só calor da clareira
caridosa do verão

Ah, a musa do teu alvo
não passa nem vai
Tiro de festa não é crime de matar
em dia quente, solitário
um pingo de suor
Confessionário



para ouvir: clique aqui
hoje passei 3h dentro de um onibus no meio de um alagamento
deu vontade de ficar pelado e ir pro meio da agua com um placa escrito caos
e começar a gritar.
Cansei da arte,


quero ser agora agente secreto.

Ela

Tem algo de infernal neste descabido conselho de perdoar.
Perdoar cada dia em que ela foi uma semana?

Ela e seu costumeiro jogo de ser tempo e espaço metafisicamente mulher.

Ou cada semana em que fiquei jururu esperando chegarem as férias de julho, e nas férias de julho:
Casinha verde na rua Riachuelo,
Bodega com os amigos
& o crepúsculo no píer. (sem o crepúsculo o píer não seria tão elegante, e isto se dá também lingüisticamente).

Meus companheiros já não me agüentam mais falando dela, não compreendem que ela me costuraram na língua como verbete de amor; e assumindo sinceridade e insegurança: eu adoro um amorzinho.

3.30.2009

Assidentes

É curioso como a delicadeza e a polidez midiáticas chegam a patamares inacreditáveis:

"Os corpos foram cuspidos para fora do carro"

Estamos nas nuvens tamanha a sensibilidade. E para os não-românticos: é pleno e eficiente o uso da linguagem em tal trágica notícia. Para os céticos: tão sutil quanto um prego colocado no assento da cadeira.

(Isto tudo é uma ironia, ou muitas ironias, não sei mais).

Foi que o carro sorumbático das entranhas não apreciou o refinado sabor de passageiro e condutor, cuspindo então os dois corpos no prato raso de curvas perigosas e asfalto porcelanado; depois disso, ainda protagonizou um espetáculo, jogando-se ribanceira abaixo, capotando exatas quatro escandalosas vezes.

3.29.2009

peço desculpa por minha ignorância!

3.26.2009

Semana passada (na quarta feira pra ser mais precisa) eu conheci uma Amanda, sentamos na mesma mesa do bar, ouvimos a mesma musica, dividimos a mesma cerveja e ela lá, Amanda.
Ela fala, eu falo, as demais pessoas na mesa falam, falamos todos, tudo ali, no seu lugar, a coisa toda funcionando do jeito que se espera que seja.
(Preciso dizer agora, que eu nunca terminei de escolher o nome da minha filha, sempre foi algo entre Fermanda e Amanda.)
A coisa acaba e todos vamos alegremente embreagados pra casa, Amanda e o namorado entram num taxi e a vida seguiu daí.
Ontem alguém me disse: Lembra da Amanda?
Daí a conversa seguiu um rumo estranho que eu nem soube acreditar.
É até egoísmo meu falar aqui de como eu não me sinto bem desde ontem, sabendo que existe o namorado da Amanda e existe a mãe da Amanda, e existe o Pai da Amanda, e os amigos da Amanda e tanta gente da Amanda que eu não tenho como calcular, se é que essas coisas se calculam, se é que dá pra não perder a conta, se é que alguém já se deu conta, porque eu que sou eu, e não sou nada da Amanda, não sei me dar conta, não sei nem me fazer entender, não sei nada além de um nome.


Quando eles já estavam no taxi. Todos deram Tchau e antes que o carro se danasse a andar eu perguntei:

_ Ei, qual o seu nome?

_ Amanda.