3.31.2009

Som pra Padre Ouvir

Há canções que chamo muito particularmente de canções confessionário. Não por um motivo romântico embalado por letra cheia de euteamos ou qualquer termo lírico equivalente, nem por uma reação emocional-sinestésica à beleza melódica proposta por acordes dissonantes; as canções confessionário são assim chamadas por serem segredos pagãos dentro dum baú divino. O AMOR é matéria mais recorrente para compor os segredos pagãos das canções confessionário, o AMOR em todas as suas acepções humanas, portanto, a musicalidade está no idealismo, no ciúme, na paixãozinha de final de festa, na saudade, na falta, na loucura, no derretimento, e daqui pra frente é uma lista infinita de sentimentos que, curiosamente, se potencializam em condições ideais de temperatura e mistério.


CONFESSIONÁRIO (Experimento primeiro - Feita numa manhã caótica de noite não-dormida. Amor que não pode ser prenunciado por uma bola de cristal. De tão velado engana até os deuses.)

Ah, cadeira matinal,
Toma um pouco do café,
E um pouco do sabor
e um pouco do que é
a borra do café: tudo borrado.

Ah, a mesa está de pé
quebrado
Manhã torta 'tá avisado
é amor, é amor

Mentira, papo furado
é só calor da clareira
caridosa do verão

Ah, a musa do teu alvo
não passa nem vai
Tiro de festa não é crime de matar
em dia quente, solitário
um pingo de suor
Confessionário



para ouvir: clique aqui
hoje passei 3h dentro de um onibus no meio de um alagamento
deu vontade de ficar pelado e ir pro meio da agua com um placa escrito caos
e começar a gritar.
Cansei da arte,


quero ser agora agente secreto.

Ela

Tem algo de infernal neste descabido conselho de perdoar.
Perdoar cada dia em que ela foi uma semana?

Ela e seu costumeiro jogo de ser tempo e espaço metafisicamente mulher.

Ou cada semana em que fiquei jururu esperando chegarem as férias de julho, e nas férias de julho:
Casinha verde na rua Riachuelo,
Bodega com os amigos
& o crepúsculo no píer. (sem o crepúsculo o píer não seria tão elegante, e isto se dá também lingüisticamente).

Meus companheiros já não me agüentam mais falando dela, não compreendem que ela me costuraram na língua como verbete de amor; e assumindo sinceridade e insegurança: eu adoro um amorzinho.

3.30.2009

Assidentes

É curioso como a delicadeza e a polidez midiáticas chegam a patamares inacreditáveis:

"Os corpos foram cuspidos para fora do carro"

Estamos nas nuvens tamanha a sensibilidade. E para os não-românticos: é pleno e eficiente o uso da linguagem em tal trágica notícia. Para os céticos: tão sutil quanto um prego colocado no assento da cadeira.

(Isto tudo é uma ironia, ou muitas ironias, não sei mais).

Foi que o carro sorumbático das entranhas não apreciou o refinado sabor de passageiro e condutor, cuspindo então os dois corpos no prato raso de curvas perigosas e asfalto porcelanado; depois disso, ainda protagonizou um espetáculo, jogando-se ribanceira abaixo, capotando exatas quatro escandalosas vezes.

3.29.2009

peço desculpa por minha ignorância!

3.26.2009

Semana passada (na quarta feira pra ser mais precisa) eu conheci uma Amanda, sentamos na mesma mesa do bar, ouvimos a mesma musica, dividimos a mesma cerveja e ela lá, Amanda.
Ela fala, eu falo, as demais pessoas na mesa falam, falamos todos, tudo ali, no seu lugar, a coisa toda funcionando do jeito que se espera que seja.
(Preciso dizer agora, que eu nunca terminei de escolher o nome da minha filha, sempre foi algo entre Fermanda e Amanda.)
A coisa acaba e todos vamos alegremente embreagados pra casa, Amanda e o namorado entram num taxi e a vida seguiu daí.
Ontem alguém me disse: Lembra da Amanda?
Daí a conversa seguiu um rumo estranho que eu nem soube acreditar.
É até egoísmo meu falar aqui de como eu não me sinto bem desde ontem, sabendo que existe o namorado da Amanda e existe a mãe da Amanda, e existe o Pai da Amanda, e os amigos da Amanda e tanta gente da Amanda que eu não tenho como calcular, se é que essas coisas se calculam, se é que dá pra não perder a conta, se é que alguém já se deu conta, porque eu que sou eu, e não sou nada da Amanda, não sei me dar conta, não sei nem me fazer entender, não sei nada além de um nome.


Quando eles já estavam no taxi. Todos deram Tchau e antes que o carro se danasse a andar eu perguntei:

_ Ei, qual o seu nome?

_ Amanda.

3.18.2009

Dia ruim

Acho que tô com uma tapioca debaixo do olho, só pode!

A mulher que não sabia dançar e outros peixes


Oceano em romaria
Oceano cinco dias sem comer
Oceano esfomeado
engole terra e bicho e homem
sal, açúcar,
azeite, folha brinco
de primavera,
a própria primavera,
e a irmã postiça dela
o Oceano saboreia
qualquer afogamento barato

Mulheres brancas pretas amarelas
roxinhas sem ar

conchinhas de mar,
pinguelos pérolas
ondas microondas
ultraleves em queda, quedas ultraveladas
militares, ônibus
e sambistas
e contadores
e saudades
e sacerdotes
e um tanto de água para a sede,

minha mãe
e outros peixes.
Queridos,


Sinto saudades dos já idos anos de verão em salinas, sorvete na cairu, molecagem na escola de teatro.

Quero ver novamente a Aninha linda e humilhada lavando a mão com esperma diluído em sabão de glicerina.

3.17.2009

Martina Gedeck




Posso contar que se Paloma não fosse tão jóia meu nome ia ser Martina e eu tenho o maior orgulhinho disso que não foi?

Últimas

Queridos,

A vida por aqui recomeçou daquele mesmo jeitinho: aulas & ensaios & angústias & chuva-enchente versus calor infernal.
O Caio me ligou hoje pra nos encontrarmos só que eu tinha compromissos universitários inadiáveis... mas... descolei uma festa iradíssima pra gente pegar no sábado, Lucas também vou arrastar e o Tusa que eu mal conheço mas conheço - digo, não faço idéia de como ele é hoje, mas temos uma historinha juntos lá pelos meados da adolescência.
Estou com problemas com a impressora então provavelmente amanhã vou ficar devendo uma nota de leitura na aula de metodologia que começa impreterivelmente às oito da matina.
Tenho arrasado no café e no cigarro.
Às vezes uma ou outra poesia de beira de estrada, agora faço uma música sobre corações partidos, não porque meu coração está partido e sim porque eu gosto de fazer música.
Também virei assistente de direção, empolgadíssima com desvios dramatúrgicos de certos autores geniais tchekovianos.
Meus caderninhos de uns tempos pra cá estão recheados de lamúrias e nostalgia, mas no dia-a-dia eu fico sossegada e conto uma piada.
O Wally Salomão estava certo com o MAL SECRETO, eu gosto de ter um MAL SECRETO.
Ultravelado sofrimento. Que mais preciso?

Eu sou aquariana, vocês sabem, do tipo que espatifa copos de vidro na parede; furiosa, mulher braba, só que ultimamente ando com o rabinho entre as pernas, com vontade de fugir de bagunça, de farra, de desbunde (mas sábado estaremos lá na bagaça, hein meninos?). Efeito Olinda-na-minha-vida.

Nossa família não terminou não, eu estava errada.

Tivemos uma vitória na faculdade em relação ao DRT, o departamento está mobilizado se deus quiser ninguém mais sai formado sem lenço nem documento. O nosso movimento estudantil é o mais merdinha do mundo e nos deixa orgulhosos.

Quero ler Lygia Bojunga e Ana Christina César. Quero ver Martina Gedeck em algum filme, porque ela é muito linda. Quero que o Banco do Brasil exploda (e já estou cuidando do assunto). Quero funcionar.

Hoje a Karina da cantina do meu departamento cobrou a conta do mês e eu não tenho dinheiro pra pagar, aí joguei o papo do recebo na semana que vem. E ela lamentou silenciosamente por saber que não existe semana que vem na minha folhinha de pagamento.

3.15.2009

Depois que eu bebi, tirei essa foto pra nunca mais me esquecer.

Balada de Um Romance Inacabado

A gente se amou tanto que eu não tenho nem do quê reclamar, eu nem tenho motivos pra sentir raiva ou ficar rancorosa.
A vida é de uma breguisse sem medidas mesmo. Foi. Acabou.

E assim é muito lindo.

E a gente não tem culpa de nada,

nem do tempo cruel que nos separou,

nem da distância confusa que nos envelheceu.

E tanto eu aprendi contigo, meu amor, que eu só quero poder lembrar de tudo sem perder nenhum lance. Amar é mesmo um troço louco,


estou meio anestesiada de tanto amor.

Chorosa, esperando você ligar, mas algum me diz que você não vai ligar.

Que foda, tu já não tens mais paixão por mim, e o que eu faço com toda essa solidão no meu mundo?


Eu queria voltar no tempo,

naquela nossa época eu tinha Belém, eu tinha mãe, eu tinha tu e eu.

Estou faminta,
Cansada,
Ofegante,
Neurótica,
Feliz,
Pequenina,
Inteira,
Crua,


de tanto amor.
Vou esquentar um almoço e depois vejo o fazer da vida, já disse Aninha.

3.14.2009

Longe(o)

"O pescoço
é
a parte do corpo
dos vertebrados que
une
a cabeça
ao tronco."
























































e ainda dizem que vivo com a cabeça na lua.
pode ser verdade, e ser for é culpa do pescoço.

3.13.2009

Textículo

Ícaro

Ícaro sempre foi um menino sabido.
Peralta ícaro.
Gostava de rir da desgraça alheia
e própria também.
Ícaro é um pouquinho da maior felicidade minha.
É ele quem descobre o inacreditável quase todos os dias e consegue esquecer nos 5 minutos seguintes.
É ele quem usa a mesma tintura daPaloma.
É ele quem produz os melhores sabonetes.
Ícaro é uma pessoa tão doida que mais doido que ele só mesmo o Gabriel. (não teve graça, aninha.)
Hoje é o aniversário do Ícaro e eu vou cantar uma musica bem bonita pra ele. Começa mais ou menos assim:

"Voar voar subir subir... "

No mais, posso dizer que o ícaro é um presente pra mim que eu só sei abrir de pouquinho em pouquinho a cada ano.

3.12.2009

Faltam 4 minutos, e eu tô travado pra escrever uma cena! Guém mim ajude!

3.11.2009

Ana Luísa, que sempre tirava 11 na escola, tinha inimigos: todos os bons alunos que tiravam 10. por causa disso, ela não podia revelar que seu maior orgulho, apesar dos resultados avaliativos além da média, era empunhar armas de calibre colibri.

3.09.2009

já eu sou mariano, que de tempos em tempos, venho aqui gastar meu tempo com algo que me faz sentir bem, não que eu esteja bem, bem, não tenho andado muito bem, e não é pelos 2cm de perna maior que a outra, é por reconhecer que metros separam de mim mesmo, saio na rua e não me acho. de vez em quando pinto, falo, idealizo, piso no palco, piso nas pessoas, finjo, finjo que escrevo, finjo que pinto, finjo que piso nas pessoas, piso em mim mesmo, falo comigo mesmo, idealizo pisadas, escritas, conversas, idealizadas. faço bastante coisa. e nada tem me satisfeito. por isso sou vagabundo de vez em quando. mas isso também não satisfaz a minha não satisfação. sou mariano, que vou pro mar de ano em ano, ver se no mar, me encontro, me satisfaço e me amo.
E eu que também sou Carolina mas não entrei na história posso dizer que está mesmo difícil de parir.
Ainda mais com tanto comprimido comprimindo a minha sorte.
Eu que não sei estudar, não sei pedir ajuda e não vou viajar me acanho e me aguento em ser um triste meio amargo.
Agora, de aborrecimentos mesmo, só trago comigo a quieteza de não ser uma escritorinha de merda nem de coisa alguma.
Sorte minha é ter dois nomes e poder ser Ana, vez em quando, pra pisar em palco, vez em quando, pra ser a atrizinha
de merda.

3.08.2009

O oráculo do templo do meu tio avisou: esse ícaro tá é fodido.


A morte da minha mãe está ficando velha.

(Meus romances solitários à queima-roupa,
Na guerra de um homem só eu sou dois e sou mulher. )

Teve uma época em que a gente achou que não ia passar de ano, todos nós da banda podre desesperados e a Carolina estudando matemática, preparadíssima para as melhores avaliações do trimestre. E mesmo assim ninguém pediu ajuda pra ela, só uma colinha na hora do exame e pronto; durante a preparação para as provas as pessoas iam e vinham e ninguém via a Carolina.
E a Carolina era tão bonita,
Carolina um doce meio triste,
Carolina tímida de doer,
Carolina pra cima e pra baixo,
Carol aqui
Ina lá, deslizando no meu pensamento.

O destino me falou: escritorinha de merda, tá difícil parir conteúdo né?

3.07.2009

“Sejamos preguiçosos em tudo, exceto em amar e em beber, exceto em sermos preguiçosos.”

Ele enfante



Do alto de seu corpanzil desajeitado
arromba a noite e causa alvoroço
embora culto
é grosso!

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pedirei publicamente, algo pedido anteriormente
palo desenhe um elefante pra gente
quero tatua-lo!
e ja havia lhe falado!
derte desejo mio!

Girândolas

primeiro sábado em casa, e já faz tempo que assim não se sucedia. a farmácia da esquina abriu suas portas espetacularmente mais cedo, com suas estantes felizes.
a farmácia disse: bom dia mundo!



foi que ontem teve uma festinha na faculdade e eu acabei perdendo a mão; naturalmente cheguei em casa a ver os primeiros espirros do sol.


depois da quinta birita,
a vida é mais bonita, uma dádiva, uma obra prima,
nossos amigos são mais legais ao vivo que no orkut,
tornamo-nos privilegiados por pensar o amor com liberdade,
a arte salvará o mundo, basta dizer: viva brecht!
a única inquietação que realmente move algo vai com o tempo armazenando-se na bexiga,

- palô, vamos fazer xixi?
- bora.

a fila imensa começa a nos lembrar que a realidade não é tão bela, e mesmo assim continuamos tentando reinventá-la em nossos rodopios e trucões.

- palô, vamos fazer xixi ali naqueles matinhos?
- bora.

só que o que nós chamamos de matinhos um biólogo, por exemplo, chama de planta urticante. a partir deste dado a gente entende o que aconteceu depois e porque nesta linda manhã de sábado, a farmácia da esquina abriu suas portas espetacularmente mais cedo.



deus não perdoa, não deixa passar nem o mais silencioso pecadinho.

3.05.2009

Diário da primeira parte da manhã (04/03/09)

Amanheci cedinho ontem, mamãe dormia mano dormia, usei a máquina computador, usei peniquinho, potinho, pazinha bem rapidash e me despedi de casa pra ir fazer exames de rotina num hospital do centro da cidade.Faz-se esses exames com jejum que é pra comida da gente não mexer com o doutor. Peguei o ônibus e dentro dele fui lendo o Macunaíma, O herói sem caráter - tava pra terminar mas não queria terminar, queria saber do final mas não queria que o final soubesse disso. Os livros tem sido engenhosos com a minha família: com alguns não querem nem se saber, e cuns outros fazem o que bem entendem. Fazem isso benzinho comigo - aí cheguei no hospital azul pavão de fome, tava até brilhando. Levei um pão de queijo no bolso pra me tentar o comer. Entrei e o atendente quis saber onde meu nomendereçidade, dei. Ele descobriu que esse ano meu aniversário é na mais uma sexta-feira treze e me encarnou. Dei meu cocô e xixi na mão dele pra não deixar barato. Fui e tirei sangue. Uma agulhona, mas não doeu. Até ri.
Saindo do hospital comi o pão de queijhmmm, gostosão. Ainda tava brocado. Na esquina tinha uma mulher que acho que sabe - tem gente de jejum andando por aqui! e vende uma tapioquinha bem fraquinha, ainda cara. Acabei na praça sentado num banco olhando, olhando esse pessoal correndo pra não chegar em lugar nenhum, hoje em dia é tudo assim...cansei de ver e tirei meu livro de dentro do buxo. Li mais umas partes mas ainda me distraía pra olhar pro pessoalzinho correndo pra não chegar em lugar nenhum. Gente engraçada. Voltei em livro, e admito que já desconfiava bem de fininho praonde é que esse boi ia. Ia terminar "no campo vasto do céu". Macunaíma virou Ursa Maior. Não te falei que eles fazem o que bem entendem!! Esse /mar_io_d_andradiiixx castigou meu peitinho. Palo, não vais fazer o desenho da minha tatuagem não? Queria terminar esse diarinho de bordo, mas a pressa de correr pra lugar nenhum tá me chamando! Só adianto que tenho um ensaio agora pra ir todos os dias, olha só que coisa linda!

3.03.2009

O ouro é nosso!






melancolia, egocentrismo, euforia, desmedidas, surtos nervosos e risadas psicóticas...

os treinos começaram para as...



!!!!PSICOLIMPÍADAS DE TERAPIA EM GRUPO !!!!!




5 salas acusticamente isoladas em 5 consultórios diferentes

5 divãs de couro chileno

50 pacotes de lencinhos free

5 seleções mundiais formadas por pacientes com transtorno de personalidade limítrofe, depressão, neurose obsessiva e afins.

todos eles acompanhados por 5 piscoterapeutas que com muita fé, freud e liderança lutam pela vitória nas...




!!!!PSICOLIMPÍADAS DE TERAPIA EM GRUPO !!!!!
O prato do dia:

saborosíssima refeição francesa acompanhada de sandálias havaianas emoldurando aquele cantinho sujo da unha.

(nada mais gostoso!)

3.01.2009

Ontem eu me dei conta; não paguei a conta. O credor já me bate na cara desde que nasci:
- Nascer custa caro!
- Vitamina custa caro!!
- Manter o peitinho mamado durinho custa caro!!!
- PAGUE!!!!!
Devo. Devo?
Jogue tinta nas páginas do que te diz isso, desenhe um grande sorriso e ora, VEJA! E talvez até pague pra ver, a cara de quem te impede impedida de te dizer que não!