1.10.2010

Mamute de Salto Alto


Era assim que eu me sentia quando você me largou: com todo o peso do mundo equilibrado sobre uma agulha. E sim, eu era feia, feiozona. Gorda, dentuça, fibrosa em meus desarranjos.

Um dia, meu amor, você foi embora... e eu tive que me mudar, porque o aluguel ficou alto demais pra uma pessoa só... mas esse aperto nem se comparou com a largueza dos corredores sem a tua presença na casa. Mas foi um alívio sabe? Foi um respiro, porque você também não é lá flor que se cheire, você é uma flor que arranca narizes apaixonados, e essa história eu já conheço dos primórdios das fantasias infantis.

Me resguardei, embora eu tenha sonhado noites e noites à fio, durante uma vida toda, em namorar uma flor que arrancasse meu nariz.

Eu parti, então, para a mais densa selva de mim. Onde eu habito há folhas secas em que posso pisar, e ouvir seus estalidos; há nesgas de luz entrando pela copa das árvores, há terra molhada de orvalho, há o silêncio da noite primitiva.

E eu rezo para achar um cigarro.

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