2.25.2009

Benjamovie


Tudo que o mundo não precisa é de um cheirapipoca como O Curioso Caso de Benjamin Button, o festejado. O filme é uma produção cheia de pretextos para que seja utilizada a enfadonha tecnologia de criação de efeitos especiais que, a meu ver, tem servido somente para reduzir a potência imaginativa do público. Mas não pretendo me aprofundar neste assunto de fábulas pré-fabricadas, enlatadas, prontas para a venda, afinal, criticar a indústria cinematográfica virou moda e pior, uma moda chata... O que eu quero falar mesmo é do discurso atrelado a todas as belas imagens geradas na tela de um supercomputador: moralista, fatalista, prescritivista. Dentro da fábula fantástica do menino que nasce de trás pra frente (Benjamin realiza o passeio inverso da existência, nasce velho e com o passar dos anos vai ficando jovem), rascunha-se um pensamento acerca dos acontecimentos que só o tempo pode articular, o mote até que é bom, poético, romântico, onírico, mas o filme logo nos primeiros minutos mostra que chegou fundamentalmente para arrancar lágrimas baratas dos espectadores através desta idéia de que os romances, as alegrias, as dores têm o momento certo para acontecer, e sendo assim, não é possível lutar contra as imposições da vida.
Benjamin (interpretado por uma-porta-teria-mais-expressão Brad Pitti), em sua delicada situação de tempo as avessas é impedido de se envolver amorosamente com Daisy (intepretada por Cate Blanchett, um charme) durante a maior parte da vida, quando os dois são crianças ele tem a aparência de um velhinho e quando os dois já são adultos adentrando a envelhecência, a aparência dele é de um rapazote. Benjamin e Daisy, portanto, só conseguem viver seu relacionamento plenamente no meio da vida, justo quando os dois formam um casal bacaninha de adultos apaixonados e bonitos; neste ponto as cenas de sedução são exploradas ao máximo, evidenciando o comum pressuposto de que a inteireza sexual e emocional só é legitimamente alcançada nesse lugar da vida (lá pelos 35, 40 anos, fica a dica).
A indicação da paixão entre as duas personagens nos momentos diferentes da vida é quase um fantasminha camarada de velhos valores da sociedade que determinam as relações, quando Daisy é jovem e Benjamin um homem de quase 60 anos, o tom de censura é velado, Benjamin não aceita as investidas da futura namorada porque tem medo de decepcioná-la; quando Daisy envelhece e tem seu último encontro com o agora adolescêntico Benjamin, fica clara a opção de não mostrar uma cena de intimidade entre uma mulher velha e um moço, a intenção fica no ar certamente porque a execução da cena quebraria toda a atmosfera cândida do filme, um purismo banal que só atesta o preconceito sobre as relações entre pessoas de idades distintas, pessoas diferentes, pessoas que fogem do espírito que cerca a liberdade humana de fazer escolhas e vivê-las de modo a proteger a esfera pessoal do martelo social.
A história de Benjapitti é emoldurada pelo presente, Daisy já está para morrer no hospital e pede para que sua filha leia o diário de seu Benjamor, entre uma revelação e outra - sempre com frases do tipo Tudo tem seu momento para acontecer, As coisas vêm na hora e duram o tempo que precisam durar, Tudo que é extraordinário é finito, nossa heroína vai perdendo as últimas forças e a platéia começa a virar um rio de choro. Existe também um cerne poético que chega a ser um tico interessante: no princípio do filme, a old Daisy entre um devaneio e outro lembra da história de um relógio que marcava as horas de trás para frente de modo que o tempo pudesse ser recuperado.

Nem vou falar que eu gostaria de recuperar os 166 minutos que perdi no cinema, mas por estar mais dura que pau de tarado, os quatro contos eu adoraria ver novamente xuxados na carteira.

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