3.17.2012

Ele não queria perder aquele corpo leve e lunar, quase sem gravidade, quase nutrido por qualquer substância da ordem das coisas leves.
Estrelas da espécie que flutuam.
Ele não queria despojar-se da dança cotidiana de seus passos, magros passos sobre o chão do mundo. Ninguém poderia convencê-lo a abrir mão daquela existência infestada de movimentos, golpes de vista, Minas Gerias.
Não, não, Minas Gerais era sonho adormecido.
Minas Gerais não passava de um desejo porque ele morava em São Paulo, afivelado pela correria de dentro e de fora dos transportes públicos. E havia o mar. Havia o mar. Era só pegar um carro e descer a serra.
O vento na cidade, entretanto, não era digno de fruição naqueles dias feitos de brasa de cigarro. O sol era matéria prima para o suor. O sol era a raiva dos homens toda derretida e pendurada no alto como um pêndulo de relógio antigo. A fornalha das ruas confundia-se com o coração.

Ele não queria deixar o corpo daquele jeito. Não assim atropelado. Não assim sem ter feito tudo que se pode fazer no mundo. Não sem rasgar ao meio as possibilidades da carne.

Mas morrer não doía. Não como as pessoas andavam pregando por aí.

Morrer era quase um prazerzinho.
E o mistério da vida para ele foi revelado... mas ele não tem como reportar a informação sigilosa às autoridades.

Morrer não dói, enfim, meu amigo Francisco.

E acho que outro dia ele falou do além comigo para me deixar com aquela pena cristã encrustada na alma:

- não dói, mas na minha dança o mundo era parte importante do corpo...

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